terça-feira, maio 30, 2006

O Tudo e o Nada

Há alguns dias o Papa Bento XVI visitou o complexo Auschwitz-Birkenau, o maior centro de extermínio nazista. No lugar que guarda a memória de um gigantesco flagelo humano, o Papa afirmou: “(...) No final, só pode haver um aterrador silêncio, um silêncio que é por si só um franco grito para Deus: Por que, Senhor, permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso?”. Tal indagação ainda deverá ser bem debatida mas, desde que a li, penso que se um espírito elevado como o do Santo Padre expressa tal dúvida sofrida, o que se poderá cobrar de um ser mais terreno, como nós e tantos demais, perante tais atos de impensável barbárie? Pensamos em Deus e tentamos, em vão, entender Seus desígnios...

A propósito da foto: como é bem sabido, os prisioneiros, ao chegarem a Auschwitz, eram separados: os presumivelmente mais fracos eram levados pelos nazistas para uma ala mais afastada a fim de tomarem "banho", livrando-se dos piolhos contraídos na viagem nos vagões de carga. Na verdade eram trancados em câmaras seladas, inundadas por uma nuvem letal de gás Zyklon B. O grupo que ainda reunia alguma força era escravizado e amontoado em galpões, padecendo em campos de trabalho forçado, em turnos intermináveis, sob a vaga ilusão da reconquista da liberdade, embalados pela frase que se vê na imagem, uma sádica farsa nazista, coroando o portão de Auschwitz: “Arbeit macht frei”. Em nosso português, “O trabalho liberta”.

quinta-feira, maio 25, 2006

Caco, o sapo

“Cinco!” respondia orgulhoso o pequeno Francisco, com a mão espalmada à frente do rosto, os dedos mostrando a idade.

Na verdade o garoto ainda não havia completado os cinco anos de vida. O aniversário era apenas dali a quinze dias mas Francisco já se sentia com cinco anos, embora sem saber ao certo o motivo de querer ter mais idade. Embora não houvesse passado o aniversário, dizia que já era "mais velho" a quem lhe perguntava a idade. Tinha descoberto há pouco a mecânica dos números, o que representava uma unidade após a outra e, para ele, cinco anos era um bom tempo de existência. “Não sou mais um neném, uma criancinha”, dizia para quem aparecesse. “Estou virando gente grande!”.

Francisco, se lhe davam oportunidade, apressava-se a contar: “Tenho cinco anos mas minha festa vai ser no sábado. Minha mãe já aprontou tudo”, exagerava, sem tampouco saber qual “sábado” era esse, se já era no dia seguinte, no próximo ou daí a duas semanas ou um mês. Sua mãe já lhe havia explicado que teria que dormir várias vezes até o dia da festinha mas ele, vez por outra, deixava esses dados complexos de lado. Existiam duas verdades: o aniversário seria no sábado e, fundamentalmente, ele tinha cinco anos. Onde quer que fosse, cinco anos. Na escola a tia já sabia: cinco; no clube do Flamengo, onde fazia natação, cinco; para o pai? cinco! até no supermercado Francisco tinha de informar à moça do caixa a sua idade: “eu tenho cinco anos!”.

Os dias passavam acelerados e ainda faltava decidir com sua mãe o tema da festa. A mãe sugeriu “arraial” pela proximidade das festas juninas e porque naquela mesma semana haveria na escola uma apresentação de quadrilha da qual Francisco iria fazer parte. “Você vai poder usar sua fantasia! eu pinto seu rostinho com rolha, um cavanhaque, bigodinho...”. “Nãooooo!!! Não quero fantasia! Não, não, não! Ninguém vem de fantasia!”, argumentava o filho, espantado e em pânico por causa da solução materna. “Quero Vila Sésamo!”. Antes que a mãe perguntassse sobre onde ia encontrar enfeites de Vila Sésamo, Francisco já saiu pulando pela casa correndo, cantando “Vila Sésamo, Vila Sésamo, eu sou o Beto e tenho 5 anos!!! O Caco vem, Ênio também e o Garibaldo!”. Corria dando risadas, subindo as escadas com seu cachorro, Apolo, até o terraço. A mãe ainda experimentou sugerir “Copa do Mundo” como tema, tendo em vista que o torneio se aproximava e, como sempre, naquele ano de 1974, havia confiança na conquista do título, o tetracampeonato. Mas Francisco já estava decidido... Pois bem, seria Vila Sésamo. O menino estava radiante com sua nova idade e sua novíssima idéia. Além do mais, pensava a mãe, seu único filho merecia ter tão singelo desejo realizado.

Na noite do dia 4 de junho Chiquinho mal conseguiu dormir. Só mais uma noite, basta dormir e pronto, acordaria com cinco anos! Durante a tarde sua mãe, auxiliada por uma prima e uma amiga (todas “tias” de Francisco) já havia começado a encher os balões. Uma moça que morava ali perto ia trazer os salgadinhos na tarde do aniversário, juntamente com os brigadeiros, olhos-de-sogra e cajuzinhos. A mãe, escondida de Francisco, havia comprado durante a semana um grande saco de balas Juquinha para serem distribuídas a valer pela casa. Ia ser uma farra de balas! A casa seria de Francisco e seus amigos da escola, toda a turma tinha sido convidada. O menino foi dormir acalentado pelo barulhinho bom da chuva fina que caía. O cheiro da terra molhada era uma gostosura. Sua mãe, antes de ir deitar-se, colocou-lhe mais um cobertor; aquele era um frio início de junho.

Oito da manhã! Francisco acordou com suaves beijos da mãe e do pai que já havia chegado e iria passear com o menino durante o dia, com a ressalva de que deveria deixar o garoto em casa no mais tardar às dezesseis horas já que a festinha estava marcada para começar às dezoito. Chico saiu com o pai que, nessa época, tinha uma moto. Para o aniversariante, passear na moto do pai, era um presente adicional . Andaram de pedalinho na Lagoa (apesar do mau tempo), almoçaram, compraram presente. Chegaram de volta à casa na hora marcada. Despediram-se e, ao menos naquele dia, Francisco não ficou triste com a despedida do pai. A festa ia começar!

Sua mãe havia colocado um Garibaldo em tamanho natural, articulado, de papelão, na porta de entrada. A casa estava toda decorada. Lá fora, a chuva apertou. Chiquinho tomou banho, sua mãe colocou-lhe roupa nova; pediu para beber coca-cola, “só um pouquinho!”.

17:50 horas; Francisco assiste à TV preto e branco na sala e sua mãe vai para a cozinha, preparar os cachorros-quentes. As ajudantes estavam atrasadas. A luz forte e repentina de um relâmpago entrou pela janela e, segundos depois, ouviram um forte trovão.

18:00 horas! “Os convidados devem chegar todos juntos! Uau, o céu desabou de vez”, pensa Ligia, mãe de Francisco. A mãe começa a ficar realmente preocupada. "Se continuar a chover assim as ruas vão encher, ninguém chega a lugar algum". Por enquanto o menino brinca despreocupadamente com o presente dado pelo pai.

18:40 horas. A chuva continua forte, ninguém chegou. “Mãe, será que ninguém vai vir?”, “Calma Chiquinho, a chuva deve passar, daqui a pouco eles chegam”, responde Ligia, sem acreditar nas próprias palavras.

19:50 horas. Sim, é seu aniversário de cinco anos. Francisco não se acha mais uma criancinha e, como "teste de maturidade", tem de encarar uma realidade da vida: há vezes em que tudo dá errado, por mais bem planejado. Ninguém veio, ninguém vai vir. Pouco depois das oito da noite o garoto chora agarrado à mãe que, por sua vez, segura as lágrimas, triste pela decepção do filho. O cão aproxima-se dos dois, compreendendo a seu modo a tristeza que o jovem dono sentia. O bolo, os balões, chapéus, línguas-de-sogra, tudo repousa inerte na casa de vila, um profundo silêncio perturbado apenas pelo ruído da chuva e da trovoada, agora mais longe. As luzes da sala chegam a piscar mas felizmente não falta luz. Os enfeites, com personagens risonhos daquele popular programa infantil, parecem definhar, como flores de véspera. A mãe tenta sustentar alguma animação, diz que vai ter muitos docinhos gostosos para eles e, juntos, cortam o bolo colorido, adornado com a cara do Caco. Francisco literalmente engole o sapo e vai dormir desconsolado. A chuva continua forte com raios iluminando a cidade maravilhosa.

A vida seguiu, como tinha de ser, mas aquele trauma acompanhou o garoto por algumas décadas.


Mais precisamente, uns vinte anos. Por espontânea vontade só voltei a fazer uma festa de aniversário, ainda assim pequena, com uns 21 anos. Apenas ao completar 25 tomei coragem; respirei fundo e saltei para o espaço: dei uma grande festa e, aí sim, o "paraquedas" abriu. Foi uma alegre reunião, com tudo o que dela se espera, conseguindo afastar, afinal, aquele espectro que me acompanhava desde a primeira infância. Mesmo assim, por mais alguns anos procurei me recolher em meus aniversários; o momento mais agudo foi quando completei 30 anos; morava sozinho, estava sozinho; sentia-me só. Mas logo depois tudo mudou, para bem melhor. Minha mulher, a extroversão em forma humana, “geneticamente” festeira, surgiu e arrancou de mim aquele complexo de vira-latas e os aniversários tornaram-se motivos de celebração. Só tenho a agradecer, reiteradamente.

(Uma observação: os personagens e argumento dessa história são bastante reais. No entanto, todos os detalhes, pequenos e médios, são – embora factíveis – licenças literárias. Na foto, Frederico Francisco e Apolo)

domingo, maio 21, 2006

Estrangeirismos

Já não se sentia mais um teen, embora seus dezenove anos não o liberassem para grandes empreitadas. Filipe, que tinha começado a trabalhar cedo, aos quinze, no serviço de delivery de uma pizzaria, há alguns meses tinha passado em um teste para estágio no grande banco. Agora trabalhava como trainee na divisão de seguros. Em casa vivia entre sites e chats; assistia ao futebol e ao Big Brother, MTV e discovery channel. No final de semana, encontrava os amigos em convenience stores e dali partiam para boites. Carlos, seu irmão mais velho, sempre preferiu “o bom e velho rock” e atualmente curtia blues. Quando bem jovem Carlos até gostava de acid music e contava para Filipe sobre trips de sua adolescência quando era um dark, no Crepúsculo de Cubatão. Filipe achava graça e observava que o irmão, já noivo, estava a cada dia mais parecido com seus pais; tinha entrado para o mainstream, afinal.

Filipe tinha sonhos, queria crescer no banco. Começou por baixo mas sonhava com a faculdade de administração ou, ainda melhor, economia. Freqüentava o cursinho e planejava a pós-graduação. Achava MBA o máximo. Nos finais de semana, além das boites, passeava pelos shopping centers e ia a festas dos amigos; compravam bebidas e um deles se incumbia de ser o DJ. No domingo os rapazes encontravam-se no multiplex. Gostava de festas onde houvesse garotas um pouco mais novas pois sentia maior controle. Divertia-se com isso e, vez por outra, tentava um approach em alguma das meninas. Aquilo não era exatamente fácil e, para criar alguma coragem, procurava beber algo forte. Whisky de segunda era uma opção; na falta, topava até cognac. Não raro passava do ponto e, animado com seus brothers, virava a noite, dançando o que tocassem: forró, disco, pop ou reggae. No dia seguinte, acordava se sentindo um alien e esperava a segunda-feira chegar.

Naquele início de semana tudo estava como de hábito. Pegou a van, ligou seu discman, colocou o CD do U2, ajustou os headphones e procurou usar aqueles minutos para fazer um back up dos fatos do fim de semana, deletando o desnecessário. As imagens se misturavam aos seus sonhos e se imaginava naqueles carrões que via pela janela, grandes jeeps, reluzentes sport-utilities, com seus cockpits suntuosos, múltiplos air bags, ABS, GPS e sistema surround. “Eu chego lá”, seu inconsciente exclamava mas, por ora, preferia pensar “ah, isso é coisa de nouveau riche”.

Já no centro da cidade, parou na banca, leu as manchetes. Seu time havia vencido e a temporada da NBA, lá nos States, começara. De resto, notícias de crimes e uns partidos querendo o impeachment do Presidente. Coisas sem interesse.

Chegou ao prédio do seu banco, a grande sede da instituição multinacional. O pé-direito altíssimo era imponente e Filipe sentia-se importante por trabalhar ali, um verdadeiro expert - ainda que na realidade estivesse longe disso. Entrou no elevador sentindo ainda um pouco de sono, como num jet lag causado pela repetição diária daquele caminho. Mas algo chamou sua atenção. Antes mesmo das portas do elevador se fecharem sentiu um bouquet especial, como um spray.

No fundo do elevador, com ar de enfado e óculos que procuravam escondê-lo, estava ela. O ser mais exuberante que Filipe havia visto até ali. Pelo crachá, descobriu seu nome: Marina. Como diretor e camera-man de seu próprio filme, Filipe só enxergava a moça, o mundo para ele era um close em seu rosto de pele alva, cabelos levemente loiros, pouco abaixo dos ombros e com o uniforme padrão das moças com aspirações executivas: blazer, saia ao joelho, pasta, bolsa, escarpin. Filipe esqueceu a segunda-feira instantaneamente. Se por um lado o tempo parecia haver parado, por outro o relógio tinha disparado, o elevador subia supersônico e Filipe tentava raciocinar, não queria perder o timing. “Como estabelecer um link com ela? quem era, o que fazia?”. No momento seguinte, havia chegado o seu andar. Mas Filipe não desceu; tinha que descobrir, ao menos, onde ela trabalhava. Dois andares acima, a resposta. Marina trabalhava na divisão de marketing do banco. Rapidamente sumiu entre corredores e Filipe manteve-se parado alguns segundos. Deveria haver alguém ali que pudesse responder suas perguntas, um courier, quem sabe, para fazer um lobby junto àquela moça. Descendo pelas escadas Filipe lembrou das bonecas barbie de suas sobrinhas... Marina era perfeita.

O resto do dia passou em branco; Filipe ouvia conversas sobre dead-lines, cashflow, índice Dow Jones, join ventures com outros bancos e bugs. Seu chefe falava com outros trainees sobre o jogo de basquete, verdadeiro dream team, que assistira no pay per view e contava sobre um de seus hobbies: camping em florestas virgens. Mas para Filipe nada interessava. O rosto de Marina era só o que via, uma lady, uma deusa espalhando seu sex-appeal entre os mortais.

Mais tarde, já em casa, ela não lhe saia da cabeça. Naquela noite seu computador não foi ligado. Não navegou, seu browser manteve-se adormecido. Não houve downloads, uploads, nada. Apenas ela, aquela overdose de Marina.

Na terça-feira, descobriu que seus turnos de almoço coincidiam. Não queria esperar nem mais um dia, ela haveria de descer para almoçar, fazer compras, qualquer coisa. E isso aconteceu... Vinha com outra moça e um rapaz, um típico yuppie. Mas o playboy – aos olhos ciumentos de Filipe – seguiu em outra direção, deixando as moças sozinhas na porta de um dos vários restaurantes self-service da região. Nem sempre Filipe almoçava ali. Pelo contrário, sua renda o habilitava mais aos fast-foods ou, não raramente, apenas a algum cheeseburger na rua. No entanto, hoje ele iria almoçar com as moças. Para beber ele não queria nada. Na verdade, de fato, nem comer queria. Só procurava uma forma de fazê-la saber que ele existia. Um pouco tenso, pegou um red bull. As moças escolheram ice teas.

Por estranhos sortilégios (mas também porque naquele horário o restaurante ficava lotado mesmo), Filipe conseguiu um lugar justamente ao lado de Marina. Sabia que tudo seria uma questão a ser resolvida em segundos. Chegou o momento do match point. Uma observação rápida, inteligente e bem-humorada era necessária. Talvez as moças quisessem conversar entre si sobre algo sério mas ele teria que arriscar. Além disso, deveria emendar com uma curta história relacionada à observação feita. Era tudo ou nada. E o destino estava conspirando ao seu favor. Se inicialmente foram os estranhos sortilégios, agora eram os desígnios da sorte que lhe sopravam favoravelmente: sorrisos!

Voilà, aquele round estava ganho!

O almoço terminou, a amiga de Marina os deixou sozinhos. Passaram do horário e nem perceberam. “Conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer” e Filipe propôs se encontrarem para um happy hour. “Muito melhor que enfrentar o rush”, afirmou. Marina aceitou. Nunca uma tarde havia sido tão radiante para Filipe. Sua vida agora era um thriller, estava orgulhoso de sua performance com Marina. Tudo caminhava perfeitamente. Como seu irmão costumava dizer, estava “numa nice”.

Encontraram-se no hall dos elevadores às 18 horas. Filipe pensou num bar das redondezas que iria apresentar um pocket-show mas quando lembrou que a atriz principal era uma drag queen, esqueceu essa idéia; sabe lá o que a moça iria achar! não poderia errar logo na avant-première. Pensou em boite mas era cedo e, de mais a mais, queriam conversar. Resolveram ir a um pub da moda, onde o beautiful people do centro se encontrava, ao lado de uma famosa livraria megastore com seus best-sellers na vitrine. Marina cogitou uma frozen margerita, Filipe, para impressionar, sugeriu champagne. Ela achou exagero, ele notou a bola fora. Ela resolveu-se por um bloody mary; Felipe preferiu sua conhecida Cuba libre. Falaram sobre todas as coisas; TV, esportes e música; discorreram sobre tecno e raves; jogging e natação; programas da night e matutinos. Riram das coisas “in” e analisaram o por quê das coisas “out”. As horas passaram rápidas. Se despediram, trocaram e-mails e ramais. Filipe deixou Marina na estação do metrô. A vontade do rapaz era poder dizer, desde já, “I love you”. Mas não; ele sabia que chegaria a hora certa e que sua história, com certeza, teria um happy end.

quarta-feira, maio 17, 2006

É rápida

Não queria, mas não resisti. É só uma questão: existem tomadas nas celas? como fazem os presos para recarregar seus celulares?

Das duas uma: ou a sala da carceragem está repleta de fios e benjamins em diversas tomadas ou os detentos recebem, a toda hora, novas baterias. O que, no final das contas, dá no mesmo.

Quando isso vai se resolver? você sabe a resposta.

terça-feira, maio 16, 2006

Sim, ainda vale a pena

Não estou inclinado a falar sobre as recorrentes barbaridades a que estamos expostos, a que nosso país está entregue. Já bastam todas as conversas, todas as notícias, todos os telejornais, todas as imagens, todos os medos.

Prefiro ficar com a beleza dos sonhos e com os raios do sol, formando faixas de luz sobre a floresta da tijuca, o jardim botânico e a lagoa. (foto tirada no final da tarde de domingo, dia das mães)

Prepare-se!

Na semana passada, quando começou o infernal astral do Brasil (Garotinho terminou a greve de fome, o Evo tomou as refinarias e o PCC tomou São Paulo), houve um encontro de jornalistas, promovido por “O Globo”, para debater essa nova fonte de interação, comunicação e informação: os blogs.

(Não era minha intenção mas acho que cabe aqui definir, finalmente, o que é esse tal “blog” que, embora você esteja utilizando no presente momento, a maioria dos leitores não sabe o que é ou, ao menos, de onde veio esse termo. Pois bem: há mais de uma explicação sobre o termo “blog” mas a que é mais aceita e difundida - explicando ao mesmo tempo o significado do termo e o que ele define - é aquela que afirma que “blog” é a redução de “web log” ou um registro, um “diário virtual”. Se você procurar no google “o que é um blog” vai achar diversos sites com essa resposta; um bem didático é http://blogger.globo.com/br/about.jsp. Por sinal, já vi escreverem “blogue” mas acho um tanto forçado; parece com “leiaute”, quando creio que o original, já pronto, é bem melhor: “layout”)

Aproveitando a notícia e o que foi debatido, o Globo Online perguntou se o seu leitor utilizava blogs. Chamou-me a atenção o resultado, tendo em vista que TODOS que ali responderam utilizam-se da Internet e, em especial, daquela fonte de informações (o jornal "virtual"). Somando-se os que nunca haviam lido um blog sequer àqueles que achavam que os blogs eram uma “moda passageira” chega-se a mais de 50 por cento das pessoas que responderam à pergunta. É um número alto mas não de todo surpreendente. Para quem escreve um blog fica clara a ainda pouca intimidade das pessoas em geral com essa nova ferramenta.Decerto, é algo razoavelmente novo (existem há um bom tempo em grandes jornais online mas, de fato, só começaram a ter maior amplitude há aproximadamente 6 meses) mas “que veio para ficar”. Os blogs são utilizados com diversas finalidades, recreativas ou profissionais, dando notícias desde o dia-a-dia de familiares distantes, passando pelas elucubrações de seus autores e indo até as notícias de campos de guerra, como ocorreu na invasão do Iraque há três anos.

Portanto "The blog!" é coisa nova mas não é um bicho-papão não; é bonzinho, não morde!

sábado, maio 06, 2006

"Ela é uma doce ilusão? o que é, o que é, meu irmão?"

"When you know that your time is close at hand, maybe then you’ll begin to understand, life down there is just a strange illusion" ("Hallowed be thy name" - Iron Maiden)
Nas últimas semanas tenho observado pessoas próximas que estão sofrendo por outras, queridas, que padecem. Sofremos com a dor do outro que amamos e nos apegamos à vida de uma forma absoluta, que não tem paralelo em nada.

Nos agarramos à nossa existência porque nada mais nos resta - nada com a envergadura da vida - "nada" ao menos de forma comprovada, de forma "científica". Se algo é provado cientificamente, ele “é”. Porém tudo não passa de ter eleito um determinado método como “o mais correto”. O método científico é um entre tantos. Ele nos é útil, funciona, pode ser repetido, comprovado. No entanto, entre o quase infinito rol de “provas” nenhuma coisa é mais valorizada que a vida, o que, se por um lado é uma questão mais que óbvia - visto nada ser mais "concreto" -, por outro lado me soa algo irracional, paradoxal. Por quê? Porque acreditamos em duas coisas opostas: aceitamos basicamente o que é comprovável cientificamente e ao mesmo tempo nos agarramos à vida - a "doce ilusão" do Gonzaguinha ou a "estranha ilusão", do Iron - e não suportamos seu o fim. Desejamos viver “até pelo menos oitenta anos, mas desde que com saúde”. Mas a vida, a “certeza” da vida (“certeza” que prezamos TANTO para os demais fatos) é calcada em quê ? no máximo, em pressupostos divinos, sobrenaturais. Não sabemos se vamos alcançar em paz o final do presente dia, por exemplo. Igualmente, não sabemos o que éramos antes de nascer. Ok, o amigo leitor e a formosa leitora, dirão: “é claro que éramos nada”. Pois bem, éramos o “nada”, seja lá o que o “nada” for...

Mas então surgimos. Nascemos. Nascemos, sim, mas não nos lembramos disso. Quando nos demos conta, estávamos por aqui, mantendo relações com outras pessoas como nós. Temos imagens que nos mostram como éramos ao nascer, bebês, etc. Mas quem éramos naquela época? (aí entraria outra questão: o que determinada alguém “ser”? a consciência? talvez).

E por fim, um dia, morreremos. Provavelmente uns e outros vão lamentar mas, depois de algum tempo, se não formos expoentes da espécie, tudo de nós sumirá. E, quando morrermos, como será? Claro, é uma pergunta meramente retórica. Um perguntar por perguntar.

Pois bem: nos agarramos a algo que não compreendemos e nem ao menos lembramos como começou (a não ser cientificamente!) e certamente não saberemos como terminará. Mas – essa fundamental antítese! – é tudo o que temos.

Milênios de cultura não nos fizeram aceitar essa condição. Por mais que saibamos que TUDO pode mudar no momento seguinte, procuramos criar um cenário sempre estável.

Quando alguém morre lamento por todos nós. Pelo que "se foi" e por nós, que ficamos.


Não pense que estou passando por um daqueles momentos de angustia perante as Grandes Perguntas. Sinceramente? não mesmo. Estou em um ponto (posso modificar, progredir, regredir, mas atualmente estou assim) em que tenho uma plácida consciência de que a vida é como uma seqüência de bolinhas de vidro no chão e a qualquer momento pode passar alguém ou algo e interrompê-la. A vida vale a pena justamente porque um dia vai terminar. Por sinal, há um novo livro de José Saramago, “As Intermitências da Morte”. É uma bem-humorada visão da necessidade e importância da morte.

No momento isso é tudo. Até breve. (Hummmm...)

sexta-feira, maio 05, 2006

Desabafo

(Pré-escrito: como em qualquer desabafo, posso cometer algum exagero. Mas é legítimo)

LULA É O PIOR PRESIDENTE DA HISTÓRIA DO BRASIL.

Fossem "Lulas da vida" vários presidentes que o Brasil já teve, não teríamos siderúrgicas ou montadoras de veículos. Não seria pesquisada e explorada a energia nuclear; não haveria a indústria aeronáutica e possivelmente nem órgãos como a fundação Oswaldo Cruz. Estaríamos comprando TUDO de outros países, ajudando seus "povos sofridos".

A débil atitude de Lula nessa história da expropriação das refinarias da Petrobras é de envergonhar a todos. Lula se demonstra, claramente, um fraco. Prefere resolver TUDO com tapinhas nas costas e sorrisos amarelos a defender legítimos interesses do Brasil. É como se o Direito Internacional só servisse para truncar a grade curricular nas faculdades de Direito, fazendo os estudantes decorar apostilas em véspera de prova.

Por que não buscar as devidas cortes internacionais? Por que querer demonstrar que está tudo bem e, pior, que nada irá mudar no cronograma de investimentos naquele país? Agora só falta concordar com o novo gasoduto a partir da Venezuela para ficar à mercê de Hugo Chavez ou seus pupilos. Será que Lula vai mesmo ser reeleito? que infortúnio brasileiro!

E hoje ele vem dizer "tem gente que acha que ser duro resolve o problema, acho que ser carinhoso resolve melhor. Não pensem que vou fazer com a Bolívia o que os americanos fizeram com o Iraque". Mas, peralá! discute-se nesse caso relacões comerciais e políticas entre países e não entre pais e filhos! Lula não é o pai do povo ou, ao menos, não deveria querer ser. Quanto à questão EUA x Iraque... mas que burrice!!! fala bobagem e ainda consegue ficar mal com os Estados Unidos !

quarta-feira, maio 03, 2006

Bem servidos...

“Os que debocham não conhecem o poder e o peso da mão justa do meu deus”.

Hamas?

al Qaeda?

Brigada dos Mártires de Al-Aqsa?

Não, não, nada disso. Rosinha Matheus, defendendo o regime (ops! greve) do marido.

Imbróglio Carioca (e além-fronteiras)

A cada dia acho o nome desse blog mais oportuno...

Garotinho está, certamente, mais perplexo com Evo Morales que o próprio Lula. Tinha pior hora para inventar de ocupar as refinarias da Petrobras? Não avisaram ao Evo. Isso me lembra aquele clássico “causo” futebolístico. Vicente Feola, técnico da Seleção de 1958, explica para os jogadores uma nova jogada ensaiada. Ao término da preleção, Garrincha pergunta: “Mas já combinaram com o adversário?”...

Li a carta da filha do ex-governador a um famoso blog sobre política do Globo Online (www.oglobo.globo.com/online/blogs/moreno). A filha da governadora fala em debate sério de idéias. Mas se trancar numa salinha, estrategicamente em frente à porta de vidro (tempos de Big Brother) é o tal debate sério de idéias? A primeira-filha do Estado escreve também sobre o contraditório (o processo dialético solicitado pelo pai) ser ridicularizado. Mas que “contraditório silencioso” é esse? O que tanto se ridiculariza não são as idéias - mesmo as disparatadas - mas sim as atitudes, cômicas, se vindas de um qualquer, porém trágicas se vindas de um político famoso e em atividade.

Volto ao Evo. Um jornalista da Folha, Clóvis Rossi, disse que a medida tomada por Evo Morales – e bem anunciada durante sua campanha – foi a primeira medida de um governo de esquerda desde que o Muro de Berlim caiu. Os outros, eleitos com discursos de esquerda, fizeram – e fazem – governos liberais.

É uma abordagem interessante da questão (principalmente pelo ineditismo da ação). Cabe ao Brasil correr atrás do seu prejuízo e observar o que acontecerá com a Bolívia. Aposto que boa coisa é que não será...

segunda-feira, maio 01, 2006

Mês das Mães

Entramos em maio, com seu tradicionalíssimo Dia do Trabalho (embora, hei de confessar, creio que tal sucessão de feriados possa deixar a todos mal-acostumados. Como suportar um mês inteiro de pura labuta?). E já que o mês é das mães, desde já venho lhes contar uma breve história que ouvi há algum tempo. Mãe só tem uma, mas...

Então vinha chegando o segundo domingo de maio e a professora, como anualmente fazia nessa época, pediu a seus alunos para escreverem uma redação tendo como tema a mamãe de cada um deles e, como homenagem àquele ser tão especial, pediu que os alunos incluíssem no texto a frase “Mãe, só tem uma”.

Levaram cerca de uma hora para redigir o trabalho, enquanto a professora tentava marcar a manicure e matutava sobre como pagar sua prestação da Caixa Econômica. Findo o prazo, e como ninguém se apresentava para ser o primeiro a ler “lá na frente”, Dieguinho foi escolhido.

O menino, um tanto envergonhado, se dirige para junto do quadro negro e inicia: “Na segunda-feira eu tinha uma prova bem difícil de matemática. Prestei atenção na aula e estudei o final de semana todo. Mas ainda tava nervoso, sem confiança. Quando tava passando o Fantástico a minha mãe foi no meu quarto e ficou um tempão me explicando a matéria. Ficou comigo até eu dormir. No dia seguinte cheguei cedo na escola e me dei bem na prova. Acho que tirei dez! Ahhh... mãe... só tem uma!!!!”. A professora, junto com a turma, bateu palmas para Dieguinho, muito orgulhosa do seu aluno.

Carlinhos foi o segundo. “Achei que eu não ia conseguir vir na aula. Ontem à noite eu tava com o nariz todo entupido e até com febre. Tava com muito frio também. Mas a minha mãe cuidou de mim, passou vick vaporub no meu peito, me deu um remédio lá e eu melhorei. De manhã, quando ela me trouxe na escola, eu dei o maior abraço e um beijão nela e disse que ela é a melhor mãe do mundo!! com certeza: mãe, só tem uma!!”. A “tia” quase não conseguiu esconder as lágrimas, aplaudiu entusiasticamente o garotinho, sapecando-lhe um dez.

O próximo foi Wandergleidson Júnior. O molequinho levantou-se, pegou sua folha toda amassadinha sobre a carteira e dirigiu-se para a frente da turma. Pigarreou e... “Ontem foi um dia ótimo pra mim. Consegui dez real lá no sinal, mas acabei chegando mais tarde em casa. Aquela chuva que deu, alagou tudo. Quando chove forte desce de tudo lá do morro. É uma dureza pra subir. Finalmente cheguei em casa. Quando abri a porta do barraco, notei que minha mãe tava com um homem no quarto dela. Ela ouviu a porta bater e me chamou lá, ‘Wandergleidsooooon!’. Cheguei na porta e vi que não conhecia o moço, era diferente daquele da semana passada. ‘Sim, mamãe?’. ‘Wandergleidson Júnior, seu neguinho filho da puta, pega lá na geladeira duas cervejas pra gente!!’. Aí eu fui pegar. Só então notei que pelo chão da sala já tinha algumas latas de kaiser, nova schin e bavária e, quando abri a geladeira, descobri o que temia. Sabia que a mamãe não ia gostar da notícia... resolvi gritar lá de longe: ‘Mãe.... só tem uma!’”.