quarta-feira, agosto 30, 2006

Hope you guess my name

Sei que as pessoas, em geral, não querem entrar em blogs para se estressar com assuntos graves. Há uma natural predileção por questões leves e, de preferência, recheadas de humor. Mas hoje não vou corresponder a essa espectativa.

Preciso falar sobre isso que se vê na foto acima, capa do jornal O Globo dessa terça-feira. Sei que tal cena se repete diariamente no mundo e, em especial, no Rio de Janeiro. A diferença é que na maioria dos casos não há a lente da imprensa – ou lente alguma. Como a Pietá, a mãe chora a morte do filho, em sua dor inconcebível. Poderão dizer, como autodefesa: “É uma tragédia mas, ah, acontece a todo momento e sabe-se lá o motivo do assassinato. Ouvi dizer que foi encomendado...”. Sim, nossos corações se petrificam para manter algum equilíbrio na mente já que insistimos em conviver com a insanidade dessa sociedade toda errada, ao avesso, revirada, amarfanhada, mofada.

Mas, espere, o dia não terminou! à tarde, completou-se a barbárie; chegou nova notícia: na noite de segunda-feira as pernas de uma mulher, empresária, foram encontradas em um saco, em botafogo. Ao lado, sua bolsa, com todos os documentos e pertences, para haver certeza de que o fragmento de corpo seria rapidamente reconhecido, como se o homicida dissesse “sim, não tenha dúvida. É ela”. “Ela”, uma senhora de 50 e poucos anos que havia sumido desde a manhã de segunda. A família estranhou quando ela não apareceu no aeroporto às 18:30 horas para se despedir da filha que foi passear em Buenos Aires. Perto da meia-noite, o pai, junto ao que encontrou da mulher, liga para a filha na Argentina e transtornado, de acordo com o jornal, explica: “Aqui está tudo mal; sua mãe está morta”.

Ao motivo, ao modo, à execução do fato, nem quero me ater. Penso apenas em questionar sobre “onde vamos parar” mas, posso me dar ao luxo de achar que ainda há um destino? já não chegamos à estação terminal? há algo além? o que há por baixo disso? há lugar pior, há dor mais lancinante? há pesadelos mais sombrios, desamor mais profundo, desapego à vida alheia mais abissal? Ah... não... quero me desvencilhar desse assunto, não posso me concentrar.

Me vêm à mente “Sympathy for de Devil” e “Welcome to the Jungle”. Por ora, não é nada mais além disso. Sinceramente, me desculpe.

Please allow me to introduce myself / I'm a man of wealth and taste / I've been around for a long long year / stolen many man's soul and faith // Pleased to meet you / Hope you guess my name... / But what's puzzling you / Is the nature of my game (Por favor, deixe-me apresentar / Sou um homem rico e de bom gosto / Estive por aí por muitos anos / Roubei a alma e destino de muitos homens // Prazer em conhecê-lo / Espero que adivinhe meu nome... / Mas o que está o intrigando / É a natureza de meu jogo)

Welcome to the jungle / We got fun 'n' games / We got everything you want / Honey we know the names / We are the people that can find / Whatever you may need / If you got the money, honey / We got your disease (Bem-vinda à selva / Nós temos diversões e jogos / Nós temos tudo que você quiser / Querida, sabemos os nomes / Nós somos as pessoas que podem encontrar / Tudo o que você precisar / Se você tem o dinheiro, querida / Nós temos sua doença)

sábado, agosto 26, 2006

Assuntos diversos

Lembrei, na hora que vi, do velho e conhecido ditado "quem foi rei nunca perde a majestade". Nessa sexta-feira foi transportada pelas ruas do Cairo uma gigantesca estátua (83 toneladas de mármore purinho...) de um dos maiores faráos do Egito, Ramsés II. A estátua, que ficava em uma praça central da cidade, foi deslocada em um monumental cortejo, por 35 km, para uma área próximas às famosas pirâmides, fora da capital. O motivo: a poluição que, constataram, estava degradando o tesouro. Imagino que Ramsés nem iria se surpreender se soubesse que sua estátua estava tão cercada de cuidados 3.300 anos após a sua morte. Afinal, ele era o faraó. Incrível...

-o-o-

Li no Globo de hoje uma frase que espelha a pura verdade dessa nossa terinha: "é mais fácil cassar um planeta no Universo [plutão] do que mensaleiros e sanguessugas em Brasília". É uma falta de vergonha ALIADA (e isso é importante!) à falta de brio de todos nós, brasileiros. Há movimentos correndo aqui pela internet e pelos blogs em especial, de revolta. Vamos ver no que isso vai dar. Posso estar bem errado, mas me parece que sem uma profunda ruptura "com o que está aí", nada muda. "Profunda ruptura" é coisa grave e poderia até fazer piorar. Por isso não sei se é o melhor caminho. Mas parece que atualmente qualquer opção é inócua.

-o-o-

Falando ainda sobre Brasil, mas com um enfoque menos "universal" (apenas internacional), e já que falei de cortejo e sobre as vicissitudes do nosso país, lembrei de duas histórias (uma lida, outra ouvida nessa semana) e que se reuniram em mim, demonstrando bem essa coisa de "terceiro mundo" x "primeiro mundo": nosso Presidente da República esteve dia desses no Rio; compareceu a um evento no Riocentro e, mais tarde, voltou até o bairro de São Conrado, onde teve um encontro com "personalidades" da política e cultura, na casa do ministro Gilberto Gil. Minha amiga Carla me contou que a comitiva presidencial, atravessando a Barra da Tijuca pela avenida das Américas ia fechando tudo, transformando o trânsito já lento (por conta de uma infinidade de sinais) em um enorme estacionamento fora de hora e de local. No dia seguinte leio no blog do jornalista José Meirelles Passos (http://oglobo.globo.com/blogs/passos/) uma história sobre como a polícia da Virginia (EUA) impediu que a comitiva de mr. Bush fechasse uma concorrida highway para que a limosine presidencial pudesse ir e voltar rapidamente de um compromisso naquele estado americano. A Casa Branca pediu, o serviço secreto, CIA e o escambau mas "nananinanão", disse a polícia local. O supremo mandatário norte-americano foi convencido de que, afinal, não seria uma boa idéia tal interrupção quando lembraram que isso poderia ter reflexos ruins nos noticiários de TV. Finalmente Bush fez o óbvio: pegou um daqueles helicópteros "estribados" (gíria mineira) nos gramados da White House e foi cuidar da sua vida lá na Virginia.

Sim, os EUA têm 1000 defeitos que podemos elencar aqui, rapidamente. Mas esse é o tipo de coisa que deixa o contribuinte e cidadão em paz e satisfeito. Enquanto isso, por aqui, vale mesmo o "sabe com quem está falando?". Ah, tristeza...

-o-o-

Engarrafamento de helicópteros, já que falei neles. São 12:05 PM, tarde maravilhosa de sábado; o tráfego nos helipontos da Lagoa está frenético. Os helicópteros passam pertinho daqui de casa e lá do outro lado da Lagoa observo a Rocinha, pedra da gávea, morro dois irmãos. "It's a wonderful [and complex] world"...

-o-o-

E também aproveitando que já falei em São Conrado e Rocinha, ontem à noite fui a uma pizzaria no hotel Intercontinental, aquele - para quem é do Rio e tem trinta e tantos/quarenta anos - da boate Papillon. Servem pizzas em sistema rodízio e tem um preço muito bom. O restaurante, dentro do hotel, chama-se "Varanda". Boa pedida para fazer bonito com o(a) namorado(a), mulher(marido), amigo(a) e outras classes de relacionamento que não ouso citar visto ser esse um blog sério e de família.

-o-o-

Vou daqui a pouco lá na Velox... vou me matricular... engraçado como fico um tanto apreensivo com isso; como se fosse uma nova fase da vida. Qualquer dia desses conto sobre as primeiras impressões (e dores).

quinta-feira, agosto 24, 2006

Cheio de graça...

Compulsando uma petição daqui, um recurso dali, descobri um nobre causídico com sobrenome “cusano”. Até aí, a despeito de possíveis analogias sonoras e gracinhas colegiais, é um nome, como outro qualquer.O problema aparece quando os membros da família são citados em grupo, ou seja, quando o nome é colocado no plural. Vira um pleonasmo. Uma redundância.

Uma “redondância”, por sinal.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Festa muito boa

A história que se segue é retrato fiel da realidade; aconteceu em um ponto de ônibus do Rio de Janeiro, há alguns anos.

Segunda-feira de manhã cedo, a moça chega ao ponto, repetindo seu trajeto diário para o trabalho. Perto dela, duas garotas conversam: “E a festa, hein?! Estava ótima, né?! O pessoal gostaram!”

Aquela dissonante discordância fez a primeira moça sair de seu torpor matinal, apurando a audição do colóquio: “O pessoal todo gostaram? O pessoal todo gos-ta-ram?” - assustou-se a outra menina.

A curiosa ouvinte sentiu alívio; aquele tosco engano gramatical seria consertado. No entanto, arrematou a garota, ainda indignada:

“O pessoal todo gostaram? pô, o pessoal a-do-ra-ram !!!!”

terça-feira, agosto 22, 2006

O conforto do frio

Não tenho predileção por esta ou aquela estação do ano. O calor do verão tem seu lugar no rol de programas e possíveis viagens (viagens!), naquele período que se estende das festas de fim de ano até a quarta-feira de cinzas, e o charme do inverno é anualmente bem-vindo, na serra e seus fondues ou, à distância, na neve e seus tombos. Fico com essas duas estações porque aqui no Rio é só o que há, praticamente. Há, sim, uma luz especial nos finais de tarde de outono mas passam tão rápidos... e já estamos no inverno. Já estamos? Bem, ao menos no calendário. O frio (entenda-se “frio de Rio de Janeiro”) tem andado envergonhado, tímido, recluso no extremo sul. Mas nesse domingo, para meu gáudio – e alívio – ele chegou.

Aparentemente aqui, em contraponto ao início do texto, coloco-me a dizer que gosto em especial do frio. Não, não; mantenho a afirmação inicial. O que acontece é que o friozinho no inverno e o calor de início de ano me tranqüilizam. O clima anda cada vez mais desconcertante e, ao mesmo tempo, extremado. O calor vem como um maçarico celeste e o frio é de mamute congelado em banquisa. Mas o pior é que quando se espera um, muitas vezes surge o outro. Quando o outro “é certo”, eis que o guarda-chuva (ou a camiseta) tornam-se inúteis. Esse frio "dentro de hora" me faz acreditar que as coisas continuam num rumo certo. Ao menos o clima.

É bom sentir esse friozinho que chegou à cidade. O vento entra assobiando pela fresta da janela, que insisto em deixar entreaberta para ouvi-lo e senti-lo. Estamos no inverno! Então que a estação faça por onde e o clima, repetindo-se ano após ano, seja um elemento de equilíbrio do mundo, como um filme repetido indefinidamente por uma criança, trazendo-lhe confiança e conforto.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Explique já essa selathirupavar!

Nós, brasileiros, temos essa mania de dizer que só existe “saudade” em português, que “saudade” é um termo intraduzível e, perfeito sofisma, isso comprovaria (?!) nossa tendência à nostalgia, às doces lembranças, ao banzo dos “bons tempos” e, no final das contas, demonstraria nossa suave alma, bem-humorada, com um malemolente descompromisso com as “agruras da vida” e inata predisposição para o bem-viver.

É claro que existem termos em qualquer língua que expressam essa lembrança nostálgica. Quando se fala que não se pode traduzi-la estamos observando o contexto cultural do termo, o papel em uma determinada cultura, muito mais que seu “habitat” gramático.

A agência Today Translations, www.todaytranslations.com, elaborou uma lista de "palavras difíceis de traduzir para o inglês". Entre elas está a nossa “saudade”. Temos, além dela (e aqui já transliteradas para o português): “radioukacz”, telegrafista dos movimentos de resistência no lado soviético da Cortina de Ferro (polonês); “ilunga”, pessoa que perdoa a primeira e a segunda ofensa mas não uma terceira (tshiluba, língua da família Bantu); “altahmam”, uma forma específica de tristeza profunda (árabe); “selathirupavar”, certo tipo de falta injustificada (tâmil; língua falada no sul da Ásia), entre outras.

Podemos saber o que significa o termo tâmil “selathirupavar” mas não conseguimos apreender o significado social, emocional, para seus falantes. Provavelmente “saudade” evoca em nós, emotivos latinos de língua lusa, reações diversas das que seriam registradas em indianos, malaios, vietnamitas, etc.

E pronto, chega de saudade.

Alô, alô ceresiano

Como deixei implícito há alguns posts abaixo, ao falar sobre Stephen Hawking, tenho interesse nas questões “fundamentais” para o Homem, procurando entendê-las por um viés científico (o que não significa dizer que rejeito as demais abordagens; geralmente escolho o método científico simplesmente porque, enquanto o pressuposto é válido, não se admite discussão. Se houver contraprova positiva, muda-se de entendimento. As outras abordagens sobre as “questões fundamentais”, embora não admitam discussão, acabam justamente por ensejar muita polêmica e nem sempre estou a fim disso).

Toda essa loquacidade é para dizer que me chamou a atenção o desenho estampado na primeira página d’O Globo de hoje, com a proposta para o “novo” Sistema Solar. Aquela gravura me fez divagar, sair das provocações, obrigações e provações do dia-a-dia e pensar onde vamos parar, em todos os sentidos.

terça-feira, agosto 15, 2006

Horário eleitoral gratuito

E tudo recomeçou. Podemos dizer que esse é o primeiro horário político dos tempos do blogue ou, ao menos, dos tempos da explosão dos blogues. Poderemos acessar blogs de conteúdo exclusivamente político ou nossos blogues “genéricos” e dialogar, discutir, descobrir a opinião dos outros. Mas, com ou sem blogues, sites, chats, spans ou que tais, a verdade é que esse horário eleitoral gratuito é uma droga.

Quarta-feira, 7:20 da manhã (ou melhor, para mim: “da madrugada”). Ligo o rádio do carro no caminho do trabalho para ouvir as notícias na BandNews FM. Levo um susto desavisado: tem um candidato querendo me convencer! Indignado e repleto de vã e irrefletida esperança, troco de estação. “Mas que nada”, diria o Sérgio Mendes. O candidato está em rede, o cidadão aqui tem a opção de ouvi-lo ou... escutá-lo! desligo. Avanço pelo Aterro pensando nas razões democráticas para tal abuso.

Voto obrigatório e horário eleitoral gratuito goela abaixo: por que esses anacronismos têm tamanha persistência?

domingo, agosto 13, 2006

O Cirque du Claudiô

Talvez você tenha lido e até visto alguma foto do lavrador de Juiz de Fora que veio para o Rio em uma carroça, com dois de seus quatro filhos, um de cinco e o outro de seis anos. Os outros dois, ainda menores que esses, ficaram em Minas com a ex-mulher. Para quem não soube, um resumo.

O lavrador mineiro Cláudio Márcio da Silva chegou há cerca de uma semana ao Rio de Janeiro após um mês viajando pela BR-040 desde Juiz de Fora. Cláudio enfrentou a longa jornada com pouquíssimos pertences e tendo que contar com a ajuda das pessoas que encontrou pelo caminho para conseguir alimento para si, os dois filhos e para a égua Darlene, companheira de longa data na roça e que foi incumbida de vir ao Rio de Janeiro transportando a família. Ao chegar ao Rio, Cláudio conheceu em um subúrbio uma jovem de 17 anos, grávida, que juntou-se à trupe. A presença de Cláudio chamou a atenção da imprensa e dos cariocas em geral, em vista da inusitada presença de um grupo mambembe descendo a movimentada avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, em uma carroça. A intenção de Cláudio era ir morar na Rocinha, no bairro de São Conrado. Em seu caminho rumo à famosa favela Cláudio descobriu que não teria como subir com sua carroça e égua e, em vista disso, fez o caminho de volta para o subúrbio, indo morar de favor em uma favela chamada “Pára-Pedro”, próxima à CEASA da avenida Brasil, conseguindo abrigo com um amigo que fez durante a jornada entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro.

Dentro do complexo panorama que compõe o Brasil, é curioso notar que ao mesmo tempo em que, de forma anônima e inocente, o grupo de Cláudio chegava à cidade grande, aportava no Brasil a companhia do Cirque du Soleil. Enquanto o grupo canadense vem, a reboque de sua imensa e merecida fama, apresentar o espetáculo "Saltimbanco", a trupe capitaneada por Cláudio chegava atrelada à égua Darlene, vindo tentar “vencer na vida”, como Cláudio afirmou à reportagem de O Globo.

No entanto, se o Cirque du Soleil mantém sereno controle sobre sua reputação e glória, não se pode dizer o mesmo de Cláudio sobre Darlene. Nesta sexta-feira o lavrador teve sua carroça e égua roubadas quando deixou-as presas apenas com uma corda, na CEASA, onde foi à procura de algum trabalho, sem imaginar que poderia ser assaltado.

A insólita e ingênua aventura do carroceiro sofreu um forte abalo. Levaram a “tenda” de seu grupo saltimbanco e agora sua inglória missão na cidade grande pode ter definitivamente terminado. “O show não pode parar” mas no caso de Cláudio parece que infelizmente nem teria como começar.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Day & Night

Saí pela manhã para reabastecer a casa. Orquídeas e bebidas para um jantar amanhã à noite e um cacto.

Sim, um cacto, esse da foto. Sempre quis um cacto, um cactinho, símbolo de resistência e adaptação, virtudes que devemos buscar sempre. Ele só precisa de água uma vez ao mês e mesmo assim é um ser belo. Modificou-se e criou uma beleza sua, ímpar. Como se não bastasse, sabe se defender como poucos.

"O cactinho é antes de tudo um forte", parafraseando Euclides da Cunha.

Night & Day

Ah, véspera de feriado... (dia do advogado, o famoso dia do "pendura")

Noite para espumantes, reflexão, relaxamento...

quarta-feira, agosto 09, 2006

"...E flutuou no ar como se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido..."

Quando vi a foto no site do Globo Online, não pude deixar de associar. A imagem não deixa dúvidas. Está lá estendida no chão, com um plástico azul por cima, que deixa ver apenas parte do “corpo”. Por MUITA sorte o acidente não produziu nenhuma vítima além dela.

Ficou ali, caída no cimento duro, à espera da perícia, exposta às lentes dos jornais e ao olhar dos passantes. Ela, que em “vida” tanta utilidade mostrou, agora jazia inerte, um corpo frio, deslocada, desprezada.

A imagem da porta do Fokker 100 no pátio do supermercado é perfeita analogia do momento em que vive a aviação brasileira. Bancarrota: tarifas irreais, atrasos descomunais e, agora, acidentes. Caída por terra.

(o trecho de "Construção", pinçado para servir de título, me fez pensar nessa e em outras letras de Chico Buarque. Desse sujeito podemos falar, de boca cheia: sem dúvidas, o cara é um gênio!)

terça-feira, agosto 08, 2006

Passa a tranca! (e leva a chave)

Desde aquele terrível acidente em São Paulo, quando um Fokker 100 da TAM caiu momentos após decolar, causando a morte de quase 100 pessoas, eu fujo desse modelo como o diabo da cruz.

Tivesse apenas ocorrido esse acidente, seria uma tragédia isolada. No entanto, desde então, já houve vários acidentes com esse avião e fica claro que é um modelo inseguro, a despeito do que especialistas possam assegurar. A última novidade do Fokker 100 foi essa porta que saiu voando sobre São Paulo e caiu sobre o supermercado...

Houve um tempo, lá pelo ano 2000, em que eu ia muito a Belo Horizonte e, algumas vezes, tive que viajar nessa coisa. Se não me engano, foi na última vez em que andei nele: estava sentado junto à saída de emergência, sobre a asa. Nessa saída o Fokker 100 possui uma pequena tampa, voltada para o interior do avião, que, presumo, cubra uma alavanca de acionamento da porta (como aquelas junto às janelas de ônibus ou nos vagões do metrô). Imagino que, em caso de emergência, essa tampa deva ser arrancada de seu ponto de fixação a fim de que o passageiro ou tripulante possa acessar a tal alavanca. Eu, que já estava grilado de estar ali dentro, me sentindo num autêntico esquife voador, fiquei ainda mais incomodado ao constatar que (segure-se aí) a peça estava presa à porta por um inacreditável aramezinho, daqueles cor-de-cobre! sim, é verdade; o suporte deve ter-se quebrado e a TAM colocou ali um arame todo enroscado, como na vedação dos sacos de pão de forma...

Diriam que aquilo não afeta em nada a segurança do vôo, do que eu não duvido. Mas aplico uma regra do comprador de carro usado ao arame no avião: se a parte a que tenho acesso, a parte que vejo, a parte que está exposta, apresenta algum defeito ou mau-trato, imagine o que está oculto!

Me surpreende que um avião desse ainda voe. Mas também, quem quer viajar de avião no Brasil a cada dia tem menos opções... daqui a pouco virão os Electras, Constellations, DC-3... Aliás, estou cometendo uma impropriedade: esses aviões, embora antigos, foram muito mais seguros que esse – toc toc toc, isola! – Fokker 100.

(E aqui nem podemos ter o consolo de traduzir esse temor como “ih, ele tem medo de avião!”; pelo contrário. Andei várias vezes em aviões de apenas dois lugares e nasci voando por aí. Mas é aquele ditado, “bonitinho”: quem tem... tem medo!)

Bom dia Sol, bom dia flores...

Os dias voltaram a ficar lindos, ensolarados e com clima ameno. Hoje acordei umas seis e pouco e as montanhas, lá pro outro lado da lagoa, com o Sol nascente, estavam com aquela cor entre cobre, laranja, rosa, uma lindeza...

E a lua cheia? tem visto? Se põe lá por cima da Rocinha e durante a madrugada tem formado um grande disco alaranjado. A despeito dos problemas que sabemos existir, a imagem é muito bonita. Andei relendo uns textos de Stephen Hawking sobre a teoria geral da relatividade, a mecânica quântica, o tempo, o espaço. Olho pra essa lua cheia e penso nisso! que coisa mais sem romantismo!!

Mas está tudo ótimo, está tudo bem.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Pele Rubro-Negra

Vencemos a Copa do Brasil mas eu, rubro-negro que sou, acostumado às conquistas, nem comentei nada aqui (sabe como é, coisa normal não é notícia...). Mas aproveito para citar o Campeão do Mundo no lançamento dos novos uniformes nesta quinta-feira. Os uniformes têm a mais moderna tecnologia em seu tecido e seguem a linha da camisa da Seleção, com uma frase emblemática na parte inferior frontal. No caso do Flamengo é o já tradicional “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo”.

Na foto, Bruno Mezenga, jogador criado nas divisões de base rubro-negras, promessa para futuros títulos, posa com o novo uniforme. Atente para o detalhe da “pele rubro-negra” sob a camisa, expressão cunhada pelo grande Júnior anos atrás.

Avante Mengão!

quarta-feira, agosto 02, 2006

(outra) Casa vazia

Da casa vazia, onde o tempo já passou, salto para outro vácuo. Você já ficou sozinha(o) em um grande escritório vazio? em uma grande loja? e em um tribunal?

Quase oito da noite, hora de ir embora. Boa parte das luzes do tribunal já se apagaram e a impressão é que até a rua já está às escuras. Não se ouve nada além do barulho de fundo do ar condicionado pelos dutos escondidos no forro do teto, o zumbido silencioso dessa máquina onde escrevo e vez por outra o sinal de algum elevador parando nesse andar. Não há ninguém nas mesas, nos corredores, nas escadas, nas filas. Absolutamente ninguém. Numa hora dessa até os ascensoristas já seguiram seu destino de volta para casa, final de uma jornada.

Meu trabalho planejado para o dia já foi feito, amanhã cedo tem movimento, vamos impulsionar os processos de sabe lá quantas pessoas, caminhando rumo à solução. "Solução dos conflitos", "dizer o direito", julgar, condenar, executar os inadimplentes. Somos os dedos da longa mão do Estado alcançando a todos.

Essa é a história sobre como resolvi chegar mais tarde no trabalho - porque precisava executar coisas da vida - mas esqueci de avisar aos demais.

terça-feira, agosto 01, 2006

Casa vazia

No início dos anos 90 o escritor Stephen King, autor de diversos livros cujas histórias já foram transpostas para o cinema e TV, escreveu um conto chamado “Os Langoliers”, publicado com mais alguns em uma coletânea intitulada, no Brasil, “Depois da meia-noite”. King, como se sabe, é um escritor de enorme sucesso mundial, comumente descrito como “um mestre” das histórias de terror, com elementos sobrenaturais e suspense. Lembrei de “Os Langoliers” nesse final de semana, em Minas Gerais. Explico o porquê. (E não, não vi fantasmas nem entidades do gênero. Desde já alerto àqueles porventura descrentes, medrosos ou ansiosos que é coisa bem mais frugal; mas me lembrou a tal história).

“Os Langoliers” é uma bem acabada visão fantástica da passagem do tempo e que, com a batuta de King, toma ares fantasmagóricos. A idéia apresentada pelo autor é de que o tempo (e a realidade, a tiracolo) seriam como aqueles rolos de filmes, com fotogramas dispostos lado a lado e que, sendo apresentados em rápida sucessão, dão perfeita sensação de movimento contínuo. A única diferença é que a realidade seria as imagens fixas dos fotogramas e nós, os humanos e demais seres vivos, iríamos passando, “pulando” de uma imagem para a outra. Até aí sem problemas, mas acontece que o “rolo do filme da realidade” não existiria por completo a cada momento. Os fotogramas seguintes ao atual (o futuro próximo) iriam aparecendo aos poucos, à medida que o presente fosse avançado e, da mesma forma, as imagens do passado iriam sumindo. Imagine um rolo de filme com uns 50 centímetros e uma pequena lanterna iluminando o primeiro quadrinho. Enquanto desloco o foco para a direita, as imagens seguintes vão aos poucos sendo iluminadas e aquelas que ficaram para trás caem na penumbra. O local iluminado seria o presente.

Dentro dessa idéia, Stephen King cria o cenário. Um vôo comercial desloca-se pelos Estados Unidos, de Los Angeles para Boston (costa a costa), e não consegue manter contato com o destino (nem, depois se descobre, com lugar algum) a fim de solicitar permissão para pouso. Com o combustível acabando, a tripulação decide pousar mesmo sem contato. Ao chegar ao terminal de destino, os ocupantes do avião descobrem que não há mais ninguém, que tudo se tornou um grande deserto de vida. Só existem as instalações do aeroporto e mais nada. Após muitas dúvidas e os naturais conflitos entre os personagens, descobrem ter atravessado uma “fenda no tempo” (estamos falando de histórias fantásticas, dê algum crédito!) e que aquele lugar era, na verdade, o passado próximo. Não havia mais ninguém porque “o presente” já havia deixado aquele lugar para trás. Sem ter o que fazer e nem para onde ir, os personagens se vêem dispostos a sair dali a qualquer custo (e seja lá para onde fosse) porque aquele “momento” começa a desaparecer (a idéia do facho de luz deslocando-se sobre o rolo de filme), com os “langoliers” do título aproximando-se no horizonte, como uma inexpugnável e impiedosa faixa negra, lentamente se avizinhando. A título de explicação os “langoliers” seriam, portanto, “comedores” do tempo, algum tipo de ser, ou elemento incorpóreo, que iria eliminando aqueles lugares por onde já passamos.

Toda essa história, lida há diversos anos e cuja idéia e desenvolvimento me impressionou positivamente, me veio à mente no final de semana. Você já esteve em algum lugar que conheceu, que já foi cheio de vida e histórias mas que, por motivos diversos, não abriga mais ninguém? Eu estive, nesse sábado, um pouco por acaso, daquele jeito “bem, já que você vai, eu vou lá também; afinal, no momento estou à toa”. Fui à casa onde morava minha mulher com sua família, quando a conheci há alguns anos. A casa está à venda há algum tempo e fomos lá a propósito de alguma manutenção que devia ser executada. Desde que sua mãe se mudou eu não tinha voltado ao local. É interessante observar os cômodos vazios, onde antes existiam camas, sofás, mesas, geladeiras. Uma casa grande, construída por seu próprio pai (meu sogro, que não logrei conhecer), e que abrigou por tantos anos as emoções de tipos e intensidades variadas de uma grande e unida família. O que se vê agora são armários com as portas abertas, uma ou outra caixa vazia deixada para trás, um sofá e o inevitável pó que repousa pelas tábuas corridas das salas, a despeito de eventuais limpezas.

Cheguei à janela do quarto onde outrora eu dormia, no segundo andar, e a sensação de abandono de um tempo passado aumentou. A casa do outro lado da rua, que também era habitada por diversas pessoas e inúmeros cães (coisa que muito me chamava a atenção) também ficou vazia. A sensação não é de completa ausência de vida porque a rua é bem movimentada. Mas concentrando-se naquela pequena casa do outro lado, seu quintal vazio (até as plantas sumiram!) e nos cômodos silenciosos da antiga casa posta à venda, lembrei-me dos langoliers e de nossa incessante marcha pelo rolo do filme, pelos cenários do tempo, orando para que sejamos um sucesso de bilheteria e o diretor-executivo resolva fazer muitas continuações.