quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Tudo muda ou, como sempre, eh soh impressao?

Nao imaginava ser tao longe. Apos a "all night long" viagem ateh Miami, ainda nos esperavam mais cinco horas e meia de voo ateh Las Vegas. A distancia eh longa mas, mais ainda, sinto o distanciamento "psicologico". Aqui sao outros interesses, outros objetivos. "Eh um outro mundo" eh lugar-mais-que-comum, mas nao encontro expressao melhor ao acordar, quase oito da manha, quase duas no Rio... hora desigual, tempo diferente, arrisco-me a dizer - sob o iminente risco de ser taxado de exagerado - que parece outra vida; realmente um outro mundo.

Sentado na cama, enquanto Clitia toma banho, teclado sobre um improvisado travesseiro aa frente, digito lah longe na tela da TV, lendo as noticias do Rio - debate sobre maioridade penal, criminalidade, ateh sobre o BBB... No carro, uma voz em bom portugues do Brasil me indica o caminho, seja lah para onde formos. Digito OUTLET no carro: pronto, uma lista se produz e em minutos podemos chegar ao destino solicitado. O mundo gira muito veloz; ontem aa noite, "meia-noite... Deus, jah sao seis da manha, temos que dormir!!"; vontade nao dah, mas o corpo implora.

Ontem aa noite sentamos numa mesa de blackjack. A croupier estah sozinha, aproveitamos a chance. Explico que nao sei detalhes da regra mas a garota japonezinha me explica paciente. O jogo comeca, sorte e azar (serah que nao eh isso sempre, afinal?), ateh ganhamos um pouco. Senta-se um outro oriental a meu lado. Coloca 1000 dolares na mesa e pega suas fichas. Nao demonstram maior emocao, ele ou a garota da banca. Jogo.

Ainda observamos seu jogo por um tempo. Ganha-perde, e assim vai continuando, como tudo o mais aa nossa volta. Em Las Vegas ou no Rio, outro lugar-comum: a roleta gira, dados rolam, a sorte eh lancada, embora, todos saibam, no final o casino eh quem ganha; eh inescapavel.

Lugares-comum, mas num lugar bem incomum. Ou nao?

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Rastros de sangue

Gosto dos velhos filmes de western; sempre gostei. Lembro que nos idos tempos, quando assistíamos à Ilha da Fantasia na TV, imaginava que minha vontade no tal seriado seria viver o dia-a-dia de um cowboy, com direito a Saloon, esporas, rifle Winchester, pistolas Colt ou Smith & Wesson, duelos, pôquer, pradarias e tudo o mais que compõe aquele cenário de, literalmente, bandidos e mocinhos.

No final de dezembro assisti a um clássico do gênero, Rastros de Ódio, com o ícone John Wayne dirigido pelo mítico diretor de faroestes, John Ford. Hoje, lendo as diversas manchetes sobre a barbaridade ocorrida nesse Rio de Janeiro na noite de quarta-feira, o nome daquele velho filme me veio à mente.

-o-o-

Não chego a comungar e, na verdade, estou longe das idéias do budismo sobre a harmonia que deve haver entre todos os seres vivos. No entanto, tenho inabalável convicção que todos eles, animais ou vegetais, merecem respeito. Até mesmo insetos - que devem ser muitas vezes eliminados, já que portadores de doenças - devem ser mortos rapidamente. Nada justifica torturar a aranha, uma barata ou uma mosca (ainda que essa idéia seja inusitada ou até mesmo risível). Assim, muito menos se deve eliminar um ser animal superior sem motivos fortemente justificáveis. Repito, acredito que temos obrigação, principalmente pela tal Razão que nos foi concedida, de respeitar os animais.

O que dizer, então, sobre o respeito a um animal absolutamente semelhante a nós? esse ser tem uma vida e essa vida é chamada de humana. No entanto, cada um desses seres - e são bilhões - tem o que chamamos de "livre-arbítrio". Fazemos o que queremos (ou tentamos fazer), até que algo nos prove o contrário, ou a impossibilidade. Se eu quiser voar por meios próprios, posso tentar, embora saiba que - à exceção de um milagre - vá despencar e provavelmente morrer. No mesmo tom desse exemplo extremo, podemos fazer infinitas coisas, muitas até bem menos letais, ao menos para o agente ativo da ação. Podemos, como derradeiro exemplo, bem escondidos, sob as trevas da noite e distantes de tudo, matar uma pessoa. Mas, no geral, não fazemos. Os motivos todos sabemos e dispensam ser elencados.

-o-o-

Vivemos em um enorme grupo social. E o grupo - seja a cidade, o estado ou o país - é composto por cada um de seus membros e pela totalidade de seus atos. Esse organismo, o grupo social, depende de que cada uma dessas "células" exerça, dentro de um razoável e aceitável leque de ações, sua função, seu papel. Há uma espectativa sobre o deputado, o vendedor, o prefeito, o motorista, a mãe, o filho, o guarda, o médico, o jornalista e, até, o bandido.

Uma atitude inumana, ignóbil e monstruosa como a que ocorreu nessa noite de quarta-feita, nos subúrbios entregues ao próprio azar da cidade do Rio de Janeiro, é completamente inaceitável e quase incompreensível. Há teses, sociais, culturais e históricas (além das políticas e econômicas), mas tudo passa pelo completo desarranjo em que nossa sociedade vive.

No Brasil, já se disse muitas vezes, o indivíduo pode chegar a ter vergonha de ser honesto, face à completa desordem a sua volta. Nesse momento, como se isso fosse um desrespeito com tantas dores que nos cercam, chego a ter vergonha de ser feliz.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

E a gente vai levando do jeito que dá

Ando preocupado com essa história de aquecimento global. Mas do que ser sério, o negócio parece que é irreversível. Se bobear, o balneário outrora alcunhado de Cidade Maravilhosa vai, simplesmente, acabar dentro de uns 50 anos ou pouco mais. Tenho pensado em vender o que tenho aqui, comprar em BH e morar no Rio de aluguel.

Sério...

(E não adianta querer vender daqui a uns... 20 anos, digamos. Se a "chapa esquentar" mesmo - literalmente - daqui a duas décadas tudo aqui não vai valer nada. Espero que nenhum potencial comprador do meu imóvel esteja me lendo)

-o-o-

Mas na semana passada, na quarta-feira, viajei para um lugar lindo demais que, por sinal, não deverá ser muito afetado pelo efeito estufa (ou, pensando bem, será... Sei lá). Fui conhecer um condomínio a 300 km de BH chamado Escarpas do Lago, na represa da hidrelétrica de Furnas.

Dizer que é es-pe-ta-cu-lar e colocar fotos aqui, seja lá quantas forem, não dará a dimensão da beleza dessa represa que banha dezenas e dezenas de cidades e municípios e que numa direção você pode percorrer 110 km de barco e noutra, uns 90 e, em outra mais, cerca de 100. Um colosso surpreendente. Li em algum lugar que o perímetro de sua (muito sinuosa) margem é de 2.000 km. Incrível.

O tamanho do lago se revela quando, ao voltar de um passeio a dois fantásticos cânions - a cerca de uma hora de lancha a partir do condomínio - estivemos, por alguns minutos, navegando sinceramente perdidos (o que foi resolvido com uma crença cega na bússola, na posição do Sol e em uma carta náutica). Além disso, a beleza do lugar, aliada à envolvente hospitalidade mineira, ratifica os versos daquela velha marchinha "oh, Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais...".

A dica de turismo é, portanto, Escarpas do Lago, que já foi chamado de "a Miami mineira".

Mas, como em Angra dos Reis, tenha um barco à mão.