sexta-feira, julho 21, 2006

¡Muy amable!


Li em mais de um lugar que Buenos Aires possui mais livrarias que o Brasil inteiro. Ainda que o fato de encontrar uma afirmação em mais de uma fonte dê maior crédito ao fato, sempre achei tal dado exagerado. Ainda que não sejamos um país de leitores (pelo contrário!) uma cidade possuir mais livrarias que todo um país gigantesco sempre me soou mal. No entanto começo a dar algum crédito...
É nítida a formação diversa do povo argentino para "nosotros". Há, sim, muitas e muitas livrarias, de todos os tamanhos e estilos. É difícil o visitante desavisado não acreditar estar em meio a uma grande biblioteca quando chega na El Ateneo (Avenida Santa Fé). Além de ser enorme, é lindíssima. Exuberante. Magnífica. Clássica. Confesso que me senti um tanto humilhado em minha brasileirice. Sua - em média - maior cultura e sua capital federal com reais ares de capital européia não deveriam dar motivo para os argentinos sentirem-se superiores aos seus vizinhos; mas, se não justifica, certamente explica tal atitude. Olha... muito chique.
Notei que há uma preocupação deles próprios com sua imagem externa. Têm noção, é claro, de serem mal vistos pelos demais latinos-americanos, já que carregam uma histórica reputação de arrogância e presunção. No entanto, mais de uma pessoa por lá me perguntou o que eu estava achando dos portenhos, se estava sendo bem tratado e tal. Sempre respondi positivamente. É uma gente que, além de em geral bonita – homens e mulheres – são elegantes e procuram agora, ao meu ver, integrar-se ao “mundo próximo” e não apenas à velha Europa, de onde foram “criados” em grande semelhança.
Ainda que não se possa andar flanando à noite em lugares vazios, Buenos Aires descansa nossa alma tupiniquim desse dia-a-dia tenso de metrópole brasileira. Os táxis são “de graça” de tão baratos, a temperatura é muito civilizada e a comida... ah, a comida é maravilhosa, descendentes de espanhóis e italianos que são! Restaurantes elegantíssimos e saborosíssimos.
Os argentinos formam um povo apaixonado e vigoroso, amando seus ícones e ídolos históricos, na cultura, no esporte, na política. Vê-se referências a Juan Manoel Fangio, Maradona, os generais Urquiza e San Martin, Gardel, Evita, Jorge Luís Borges ou Che Guevara. A bandeira acima, por sinal, marca um bonito monumento a “los caídos” na guerra das Malvinas, com o nome de todos os soldados argentinos mortos naquela malfadada aventura do então governo militar.
Como eles têm a aprender muito com seus vizinhos, e com a grave crise financeira de poucos anos atrás, parece que vão entendendo “o espírito da coisa”. Nós poderíamos ter a humildade de observar muito de seu espírito e tentar, algum dia, repetir seu modo de encarar as coisas. Mas, certamente, isso não se faz de um ano para o outro, na mesma medida em que não se constroem rapidamente certas livrarias e leitores interessados por elas.

8 comentários:

CrissMyAss disse...

Tive a mesmíssima impressão. Pergunto-me o que será que veio antes: alfabetização ou politização - a meu ver as principais diferenças a favor deles em comparação conosco.
Livrarias, em quantidade, não se compara ao Brasil. A Atheneo, em beleza, não se compara a nada.

Serjão disse...

Vim por intermédio do Blog da Criss. Vc escreveu exatamente o que penso da Argentina. Vc só esqueceu de mencionar a carne que é deliciosa. E o que mais se vê na Argentina inteira são bandeiras. essa que vc citou é perto do Retiro mas existe uma atrás da Pç de maio que é gigantesca o que reflete o patriotismo do argentino. E poucas vezes vi uma frase tão feliz como:
"nós poderíamos ter a humildade de observar muito de seu espírito e tentar, algum dia, repetir seu modo de encarar as coisas."
um abraço

Anônimo disse...

Seu relato só me deu maior certeza de que Buenos Aires tem que entrar no meu roteiro de viagem, já que, além de tudo, sou uma aprendiz do tango. Quanto ao mais, vc sabe quando foi a reforma do ensino na Argentina, que obrigou a todas as crianças a irem para a escola, gratuita e com ensino de boa qualidade? Foi na década de 1910, meu amigo. Quer dizer, então, que já vai fazer 100 anos que não tem analfabetismo na Argentina. Aí eu pergunto: de quem é a arrogância, dos argentinos que são cultos e informados e por isso, "diferentes" dos demais latino-americanos, ou desses últimos que acham mais fácil acusá-los ao invés de seguir-lhes o exemplo?

Anônimo disse...

Acho que não deve ter mais livrarias que Paris.
De qualquer forma, é notável...
E o hábito de tomar café lendo alguma coisa...? Muito lindo! Muitas pessoas sentadinhas nos cafés, sempre com um livro nas mãos, e a fumacinha do café subindo....

Hane disse...

Infelizmente meu preconceito e minha cabeça dura não me deixam gostar de Buenos Aires...
Welcome back, amigo virtual!

Frederico disse...

Marisa, é, não deve ter mais livrarias que Paris ou Nova Iorque. Mas o fato de ter que comparar Buenos Aires, nesse ponto, a metrópoles do primeiro mundo é um feito e tanto. É como ser medalha de prata no basquete olímpico, coisas do gênero.

Frederico disse...

TERESA, por vezes sou um tanto sistemático. Acabo comprando livrinhos sobre os destinos (principalmente internacionais) desconhecidos. Quero ter uma idéia um pouco além da superficial sobre o lugar quando lá chegar. Daí que em meu livrinho sobre Buenos Aires li várias passagens sobre o incremento do país, como um todo, no início do século XX (o metrô de Bs.As. é de 1913, por exemplo). Buenos Aires "nasceu para o mundo" muito antes de qualquer cidade nossa.

Patrícia Cunegundes disse...

Fred, não conheço BUE, mas está na minha listinha de lugares para conhecer antes de... toc, toc, toc. Bueno, sobre livrarias, Recife está sendo ótimo, abriram uma mega hiper ultra Cultura no bairro do Recife. É meu refúgio para horas sem trabalho. Estou fazendo um estrago na minha conta...