terça-feira, novembro 28, 2006

Gente que brilha

Saiu na imprensa uma nova foto daquela francesa que no início do ano apareceu em TODAS as TVs do mundo por ter sido a primeira pessoa a sofrer um transplante de rosto. Pois está muito melhor, até com um sorriso de monalisa. Fico a imaginar tudo o que envolve tal cirurgia - não só a técnica mas a adaptação emocional. Incrível.

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Li dia desses um texto sobre a Igreja Bola de Neve. Tal nome remete ao inescapável bordão "a igreja que não pára de crescer" que, ao que parece, é mesmo a intenção do fundador, o pastor, ou melhor, o (atual) apóstolo Rinaldo Pereira. Como a petição daquela advogada, alguns posts abaixo, parece brincadeira. (No site da Bola de Neve tem até o... "BolaNews"! Cada crente tem a igreja que merece)

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Atesto que, sem margem de dúvida, o carioca é gente que brilha. Neste calor úmido (tipicamente carioca) que tem feito - dei uma caminhada um pouco maior que o normal pelo centro e, claro, observei muita gente - o carioca derrete, transpira todo, fica com a cútis brilhante que só vendo... Haja sabonete, adstringente e que tais.

sábado, novembro 25, 2006

Parônimos

Atualmente no Brasil o TRÁFICO de drogas funciona melhor que o TRÁFEGO aéreo.

Ou seria mais justo dizer que o tráfego de drogas é mais eficiente que o tráfico aéreo?

Desse jeito que está, onde tudo parece descontrolado, tanto faz; virou zona mesmo...

quinta-feira, novembro 23, 2006

Apesar de tudo, sonhos (terceira parte; final)

Finalmente a turba encastelada na suíte presidencial deu sinais de que iria partir, a arruaça arrefeceu. O som foi desligado e, para alívio e satisfação do gerente, a conta foi paga - embora, estranhamente, direto na saída do estabelecimento. Marluce foi enviada para arrumar a bagunça e (decerto) ver os estragos deixados; “esse pessoal joga as toalhas na piscina e até dentro do sanitário; uma droga...”.

Enquanto segue pelo longo corredor de serviço que leva até a suíte presidencial, Marluce ouve, vindo lá de fora, um som alto, música de gringo. No momento em que os homens deixam o motel ouvindo o rapper 50 cent e cantando os pneus da pick-up, Marluce abre a porta do quarto.

A pequena geladeira está aberta, bebidas encharcam o carpete e, no ar, além do pequeno lustre ainda balançando sobre a mesa de refeição, a camareira identifica o cheiro da erva delinqüente queimada. Apressa-se a secar o tapete e nota que lá dentro a TV ainda está ligada no “canal privé”. Isso não a incomoda mais; “sempre deixam nesse canal, parece que é de propósito”.

Com tédio, entra pela ampla suíte; passa pela hidro, as duas saunas, um jardim-de-inverno com a diminuta piscina. De repente, sobressalto: ouve soluços, gemidos nervosos, choro em convulsões, pranto engasgado. A moça loira jaz caída ao lado da cama, nua, olhos injetados, rosto vermelho, com marcas de poderosas mãos pelo corpo, um corte junto ao lábio inferior, as coxas machucadas. A moça olha para Marluce, expressão embotada, como se tivesse nascido naquele momento, como alguém que não sabe quem é ou, ao menos, o que era até chegar ali, abatida em ruína física e moral, tal um anjo caído. Parece estar em um outro mundo e apenas segue soluçando, as lágrimas já inexistentes, a saliva engrossando nos cantos da boca.

A loira, aparentando pedir clemência pelos erros que a levaram até ali, estende um tíbio braço em direção a Marluce, como um profano Adão no famoso afresco vaticano de Michelangelo. Marluce mecanicamente obedece. Senta-se no chão envolvendo a menina num abraço, ambas atônitas, os olhos marejados. A moça apóia a cabeça no peito da camareira e as duas permanecem longamente em silêncio, rodeadas apenas pelos lamentos da garota. Marluce lembra de sua própria infância. Entende que, finalmente, ainda que de forma excêntrica e inesperada, estava cuidando das dores de uma criança indefesa e órfã, como sempre havia sonhado.

-o-o-

Marluce continuou deitada em sua cama por mais algum tempo, sonhando com a imagem da débil moça no motel. Acordou às cinco horas, como fazia todos os dias. O despertador a fez voltar ao mundo e à sua vida, lembrando-a que lhe esperavam o ônibus, a novela, as noites solitárias e a farmácia, o caixa e os cartões dos clientes.

“Bom dia. É à vista ou parcelado?”.

Apesar de tudo, ela tinha sonhos.

FIM

(docemente inspirado em “Janaína”, Biquíni Cavadão)

Apesar de tudo, sonhos (segunda parte)

Marluce trabalhava de terça a domingo, alternando jornadas noturnas e diurnas. Por ordem do gerente, tornou-se a camareira "Luci" porque era um nome "mais sexy", segundo ele ("como se isso importasse no trabalho", ponderou a moça, que não insistiu no assunto. "Que ficasse Luci então").

Nos finais de semana, por causa do movimento, trabalhava dobrado. Procurava não pensar nos clientes mas, por vezes, invejava aquela gente, todos com seus pares. Fingia não ouvir os sons vindos dos quartos e ruborizava perante os colegas, principalmente homens, se ouvisse algo da trilha sonora emitida pelos amantes. Na semana do dia 12 de junho todos os empregados trabalhavam em horário dobrado já que os casais utilizavam ininterruptamente as suítes. No motel aqueles dias (bem como os finais de semana) eram conhecidos como semana (ou dias) CQ, “cama quente”, em alusão ao intervalo mínimo entre a estada de um casal e o seguinte. Marluce ficava hipnotizada com os bombons sobre a cama, simbolizando as boas-vindas aos namorados em seu dia, e com os enfeites em tons vermelhos, a tal “cor da paixão”. Sonhava com um príncipe que jamais viria mas que, em suas fantasias, a colocava na banheira de hidromassagem e a deitava naquelas grandes camas redondas – algumas com seus lençóis de elástico manchados ou puídos, mas que Marluce habilmente conseguia esconder para debaixo do colchão. Ordens da gerência.

Numa daquelas movimentadas noites, mandaram-na entregar um sorvete em uma das suítes. Logo após entrar, quando já ia deixando a bandeja sobre a mesinha da ante-sala, ouviu uma voz masculina indicando que levasse até junto à cama o pedido. Teve dúvida – já que isso não era o padrão – mas ao ouvir uma voz feminina insistindo na solicitação, resolveu atender. Ao entrar no quarto, deparou-se com um grande homem, completamente nu, com seu membro enrijecido. O homem olhava lascivo para Marluce e a convidava a se aproximar para “experimentá-lo”, perguntando se ela queria sentir “o que era bom”. Sentada em uma poltrona, a moça que a chamara ria descontroladamente da cena e de Marluce, que não sabia o que fazer. Os segundos pareceram séculos e ela apenas teve energia para voltar correndo e chorando para a área reservada do motel enquanto deixava para trás as gargalhadas do casal. O homem aproveitou a deixa que o crachá de Marluce lhe deu: “Volta aqui Luci, volta...”. Quando criou coragem, contou para as colegas o que havia acontecido. Ninguém acreditou nela e, se acreditaram, preferiram fingir que ela estava inventando. No dia seguinte todos os empregados do motel sabiam do ocorrido. Começaram a dizer que ela entrou no quarto de propósito; “Está vendo, Luci? camareira curiosa, dá nisso. Mas, me conta, como era?!?!?”.

A mãe, dona Elza, sempre lhe perguntava como estava o serviço mas Marluce pouco dizia. Após o episódio do exibicionista Marluce tornou-se mais reservada ainda. Odiava as piadinhas que era obrigada a ouvir. Diziam que camareira de motel era “uma raça muito bem-humorada porque sempre achava tudo gozado”. Não conseguia ver graça na piada já que aquela simples palavra, “gozado”, lhe agredia, bem como qualquer outro termo possivelmente relativo ao sexo ou aos órgãos sexuais, mesmo os mais distantes ou “técnicos”. Sentia-se mal no emprego mas financeiramente era o melhor que conseguira arrumar.

Num domingo à noite chegou um grande carro, cheio de neon e som bastante alto, “glamurosa, rainha do funk... poderosa, olhar de diamante...”. Algum MC? talvez um jogador... Sim, talvez fosse, mas os vidros negros escondiam os ocupantes. Na portaria pediram a suíte presidencial e os garçons fizeram muitas viagens entre a cozinha e a grande suíte. “Alô...aí, uísque, espumante, energético, mandem tudo o que tiver; hoje é dia de festa!”. Hóspedes desse tipo viravam notícia rapidamente no motel. Os garçons disseram ouvir mais de uma voz de homem; achavam que eram dois, mas talvez até três. O grupo levou um som portátil para a suíte e colocou a todo volume. Com eles, uma moça, com certeza apenas uma. Um dos garçons, o Marcos, viu a garota enquanto ela mexia no frigobar. “É aquela loira que aparecia no programa do Gugu, tenho certeza!”.

Passou rápido o tempo, já eram quase três da manhã. O movimento tinha diminuído, tudo estava bem tranqüilo. Marluce consegue descansar sentada num banquinho junto à entrada da cozinha. O som alto vindo da principal suíte incomoda os poucos hóspedes que ainda estão no motel. No entanto, o gerente manda deixar assim mesmo, orientando a telefonista: “a conta está bombando, inventa desculpas”.

(continua)

terça-feira, novembro 21, 2006

Apesar de tudo, sonhos (Primeira Parte)

Quando nasceu, Marluce já tinha seu destino definido: não seria ninguém, não faria nada de incomum: somente mais uma. Tornaria-se apenas “outro tijolo na parede” mas nem mesmo essa citação pop ela iria anunciar porque jamais ouviria Pink Floyd. “Pinqi quem?”, diria.

Mas Marluce tinha sonhos e, ainda menina, queria ser professora. Brincava de dar aulas para suas bonecas e, mais tarde, para duas priminhas – que ficavam sonolentas e desconcertadas com aquele falatório. Terminavam por chorar com a insistência da prima mais velha e o choro fazia acabar a brincadeira. Na adolescência, Marluce encontrou sua aspiração definitiva: decidiu ser médica pediatra, para curar um sobrinho que sofria de asma, e todas as crianças do mundo.

Aos dezesseis anos começou a trabalhar como empregada doméstica o que, é claro, não a satisfazia. Aos vinte, terminado o ensino médio, foi trabalhar de operadora de caixa em uma farmácia. Marluce ficou orgulhosa, acreditava que nesse emprego, ainda que de forma enviesada, estaria mais próxima da medicina e, em sua visão simples do mundo, quem sabe viraria atendente de balcão ou até mesmo farmacêutica... O tempo mostrou que talvez a medicina fosse um alvo longe demais e Marluce contentou-se em fazer um curso, quando o dinheiro desse (porque por enquanto ele só desce), de auxiliar de enfermagem.

O tempo foi passando e o máximo que conseguiu foi operar a máquina de cartões. “É crédito ou débito?”. Em casa, à noite, assistia à novela, se emocionava sem ter que viver. Não tinha namorado e isso, lá no fundo de seu silêncio, lhe incomodava um pouco. No entanto, os homens eram importantes mas em um segundo plano; seus sonhos profissionais vinham primeiro. Na hora de dormir ficava um bom tempo deitada, pensando no que não tinha acontecido. Procurava lembranças de aconchego mas não tinha como facilitar o presente vivendo de um passado que não houve. Sua sorte estava no futuro.

Em um domingo, após o sermão do pastor, uma amiga veio falar-lhe. Contou que tinha arrumado emprego como camareira em um hotel e que havia outras vagas. Tinha tíquete e tinha vale, além do salário ser quase o dobro. O horário não era fixo mas Marluce conseguiria juntar mais rapidamente o dinheiro do curso. “Onde é?”, “Perto, na Barra”. Ok. No final daquele dia, foi deitar-se apreensiva.

Segunda-feira de manhã, Marluce não foi para a farmácia. Ela e a amiga pegaram o ônibus, meia-hora pela linha amarela, Barra da Tijuca. O “hotel” da amiga era, na verdade, “um hotel de encontros amorosos”, como sua mãe dizia. Por um momento Marluce estacou. Afinal o que era isso em que a amiga lhe metia? “Anda Marluce, deixa de ser boba! É só um trabalho, virgenzinha!”. Marluce foi em frente, olhou em volta. Área examinada, moça analisada, emprego ofertado, trabalho aceito.

(continua)

quinta-feira, novembro 16, 2006

Meninas (Caminhos Diversos)

Jovens mulheres, boa parte com seus vinte e bem poucos anos, moças atléticas, meninas determinadas e vibrantes. “Meninas do vôlei”, expressão que nos acostumamos a utilizar designando, de modo carinhoso, as jogadores da seleção nacional de voleibol (e, no mesmo tom, os “meninos”).

Meninas que chamaram minha atenção. Mulheres que lutaram com louvor e me mantiveram acordado em várias madrugadas. Acreditei (acreditamos) que hoje poderia narrar a epopéia coroada pelo título. Áureas rainhas das quadras mas, por ora, brilhantes como prata - bela estampa, não se duvida. Merecem os mesmos aplausos que receberiam por conquistar o título da Copa do Mundo de vôlei. E aqui o lugar-comum enfim encontra seu espaço: um título que ficou com as russas mas, acaso ficasse com as brasileiras, também estaria em boas mãos. Um longo e profícuo caminho as espera.

Jovem mulher, vinte e um anos. Moça determinada, sonhadora - como centenas ou milhares de outras. As “meninas da passarela”, forma pela qual podem ser conhecidas, modelos em busca do pote de ouro, da beleza inatingível, da oportunidade que insiste em não chegar mas, quem sabe, pode estar no próximo contrato. Mulheres jovens mas em nada joviais.

Meninas do vôlei que voltam do Japão com a certeza do trabalho bem feito, da conquista do respeito, do desempenho esportivo em seu mais alto grau. Menina da passarela que um dia voltou cambaleante do Japão, onde a saúde claudicou pela primeira vez mas, ainda assim, continuou em busca da conquista do sucesso, do mesmo desempenho profissional em seu mais alto grau.

No vôlei, modelos de vitória, de profissionalismo, de trabalho bem trilhado e certezas de vitórias futuras. Nas passarelas e lentes de câmeras, estranhos modelos de beleza, insípida beleza torta, Guernica, cubista, modernista.

Meninas do esporte no bom caminho, rumo ao estrelato. A outra, Ana Carolina, para quem crê, se foi para o céu, inapelavelmente em meio às estrelas. E nada mais.

(ilustração: "As meninas Cahen d'Anvers" - Pierre Auguste Renoir, 1881)

segunda-feira, novembro 13, 2006

Moral da história: conheça seu advogado

Não é uma piada. À primeira vista é o que parece ser, mas não é; é sério. Ou, na verdade, deveria ser.

Pesquisamos no sistema interno de acompanhamento processual do tribunal e garanto que essa petição existiu. Embora não seja muito fácil - pois a chancela do protocolo ficou sobre o número do processo - é possível descobrir seu número. E buscando pela Vara do Trabalho no cabeçalho - décima-sexta - chegamos à confirmação: a doutora realmente cansou de entrar na Vara.

Acredite, é real. Imagine a festa que uma petição assim cria em qualquer juizado. Essa senhora é impagável. Nisso tudo, uma notinha de pesar: coitado do cliente!

Sem levar em consideração a apresentação - sabem aquelas petições ainda datilografadas à máquina? - e os milhões de erros ortográficos e de concordância, as partes que mais gosto são: "vem informar que de uma forma ou de outra" (!?!?!), "funcionários 'varistas' homossexuais, que têm muito" (ainda esculhamba com os pobres "varistas"), "conheço muito o direito, o errado e o certo" (!!) e, principalmente, "grandes constrangimentos com meu marido e ex-namorado" (peraí: com o marido e com o ex-namorado?!...).

E ótimo é o despacho, constrangido: "junte-se" (significa que a petição deverá ser juntada aos autos do processo, simplesmente, sem determinação alguma). Afinal, dizer o quê!?

domingo, novembro 12, 2006

Sombrinha do Seqüestro

Esse post iria chamar-se "Homens em pleno ataque de nervos", parafraseando Almodóvar e seu "Mulheres à beira...". Seria um bom e adequado nome, mas vale a pena salientar um peculiar aspecto em meio ao desatino.

A questão é que, em vista dos diversos ataques contra mulheres que têm ocorrido, parece que os homens enlouqueceram. Dia esses, em São Paulo, um sujeito se trancou numa loja por horas e horas, com a mulher e a amante (!). Ao cabo do imbróglio, matou a amante (ou foi a esposa?) e se matou. Um doido. Nesta semana, um ex-namorado deu vários tiros na ex. Um louco. Também uma mulher, em frente à filha de três anos (...) foi assassinada por dois homens, quando saia de casa pela manhã. O principal suspeitíssimo de encomendar a execução: o ex-marido, pai da garotinha! Um desvairado.

E na sexta-feira esse sujeito, que virou até manchete internacional, seqüestrando um ônibus, armado de revolver numa mão e puxando (pelos cabelos) a ex-mulher na outra, por que ela o deixou e, pelo que consta, o traiu. O jornal O Globo deste último sábado contou que o pessoal que passava nos outros ônibus gritava insultos para o ex-marido "descontrolado". Certamente referências a galhos na testa e similares. Constou também que o "desnorteado" ex-cônjuge chegou a exigir que seu nome não fosse revelado, já prevendo a pecha que iria levar. Mas André Luís Ribeiro da Silva, não teve jeito não: seu nome foi parar na agência Reuters, EFE, na CNN, El Clarín, imBLOGlio carioca, La Nación e todos os jornais do Brasil. Agora "guenta"...

Em meio à balbúrdia criada no entorno do ônibus parado à beira da estrada, com o marido ciumento mantendo a ex-mulher e alguns passageiros como reféns, eis que surge um vendedor de sombrinhas, aproveitando o clima chuvoso que insiste em manter-se sobre o Rio. E demonstrando um dos motivos porque o Brasil faz tanto sucesso no futebol e tem samba no pé (jogo de cintura!), lá ia o vendedor satisfeito com o lucro - cerca de sessenta sombrinhas vendidas - anunciando seu produto: "olha a sombrinha do seqüestrooo, quem vai querer a sombrinha do seqüestroooooow!?!?!?!?!!" !

(Pois é esta, sim, a verdadeira marca e face do povo brasileiro, como escreveu Caetano Veloso: "isso aqui, ô, ô, é um pouquinho de Brasil iaiá... desse Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz... É também um pouco de uma raça que não tem medo de fumaça ai, ai e não se entrega não...")

quinta-feira, novembro 09, 2006

Gaia

No post anterior citei uma de "muitas histórias" do "longo final de semana". Pois vamos a uma outra delas, que servirá como ponte para um assunto de urgência, talvez a maior de todas a que tenhamos nos deparado.

Dias atrás desencavei um livro que havia comprado há vários anos, com artigos de Arthur Clarke (autor de "2001, Uma Odisséia no Espaço" e que depois Stanley Kubrick levou para o cinema) chamado "O Terceiro Planeta". Muitos dos artigos - sempre envolvendo tecnologia e a conquista espacial - foram escritos nos anos 60. No livro, editado uns vinte anos depois, já nos anos 80, Clarke faz breves comentários no início de cada texto, observando o que havia previsto e em que pé estavam as coisas. Homem ligado à ciência, ele já previa muitas das conquistas incríveis da tecnologia e, em especial, a importância que os computadores teriam em nosso dia-a-dia, como ferramenta de trabalho, lazer e pesquisa.

Os textos me impressionaram principalmente em comparação com o que veio a ocorrer na quinta à noite: chega em minha casa um casal amigo, de Belo Horizonte, e que estava hospedado em um hotel na praia da Barra. Aparecem com um aparelho de dimensões próximas a uma caixa de CD: um GPS! um GPS funcionando (enfim!) no Brasil, no Rio em particular. Muito já vi e li sobre isso mas funcionando nunca havia presenciado, quanto mais por essas bandas. Se você ainda não viu, tenha certeza: impressiona muito. Os mapinhas e a mocinha (em um português bem claro) vão lhe encaminhando metro a metro, com perfeição. E assim os dois vieram da Av. Sernambetiba até minha casa como se aqui morassem desde sempre. Coisas da tecnologia para nenhum Arthur Clarke colocar defeito.

Mas Clarke também já se preocupava com a "habitabilidade" da Terra. Citava então que o planeta estava bastante repleto de seres humanos (três bilhões) e que chegaria lá pelo ano 2000 com o dobro (coisa que acertou na mosca).

E agora estamos aqui, rumando para o final da primeira década do século XXI, e também às portas do que pode ser o fim "da odisséia humana na Terra" (Banda Eva).

Sobre isso pouco mais falarei pois o que poderia dizer já está escrito no atual post do blog "La vie est belle" de Teresa Abreu, diretamente lá de Paris. Recomendo, vigorosamente, sua leitura. (link à direita)

Nesse assunto fico a pensar nos dinossauros, os quais vemos muitas vezes como "incidentes biológicos" sobre a Terra ou ao menos como criaturas excêntricas e que atualmente servem, fundamentalmente, para embalar as fantasias juvenis. No entanto, dominaram esse planeta (que não podemos esquecer, não é nosso!!) por mais de 100 milhões de anos. Estamos aqui há algumas dezenas de milhares de anos (sendo que a "História" não tem mais de uns... 10 mil anos) e já estamos prontos para nos eliminar, dando lugar para outros.

terça-feira, novembro 07, 2006

Em contraponto àquela etiqueta

Longo final de semana rende muitas histórias. Entre diversas, uma específica: sábado à noite no “Gente Fina - Bar & Lounge”, Leblon (por sinal um lugar interessante para os maiores de 30 e poucos anos. Embaixo, bar moderninho; em cima boate sem pitboys e sem aquele clima cafoninha e repetitivo ‘festa ploc’. Ou seja, sem gente brega e sem mentecaptos). Estava em um grupo de quatro casais mas, no momento, encontrava-me de pé, conversando com um amigo, junto à saída.

Surge, vinda do interior do bar, uma moça de uns 35/40 anos e, digamos, "simpática e elegante", a qual me lembrou a Cicarelli, mas sem o bocão.

Cica chega com um sujeito mais velho e encontra com dois rapazes na entrada do bar. Os dois sujeitos, reparei por acaso, também boa-pintas.Cica toda animada, exclama: “Ah, que bom! Meu ex-marido [o coroa que apareceu com ela e que depois descobri ser um dos donos do local], meu ex-namorado e meu namorado!!”. E subiram para a boate os quatro, todos felizes... Ficamos, os dois à porta, “de cara”...

É o tal do Girl Power, é?...

(A propósito da ilustração: " 'Rosie the Riveter' [pesquisei: a 'rebitadeira'] is a cultural icon of the United States, representing the six million women who worked in the manufacturing plants which produced munitions and material during World War II. This character is now considered a feminist icon in the US")

quinta-feira, novembro 02, 2006

Um de queijo e depois o chocolate

Não viajar no feriadão tem suas vantagens. Entre as mais óbvias e repetidas nos jornais locais está o trânsito civilizado, cinemas e/ou teatros sem filas, idem quanto aos supermercados, calçadões nas praias ou lagoa, etc. Mas também é um dia, quanto mais nessa quinta-feira com sua chuva intermitente, em que se pode ler "a fundo" o jornal. Mas ler página a página tem, pensando bem, seu ônus. Por quê? bem, a gente fica tentado a escrever sobre o que lê. Vejamos.

Tem o caos nos aeroportos com longas esperas para embarcar já que os controladores reinvindicam melhores condições de trabalho. Tem a notícia que, acessória, segue a anterior: a INFRAERO já havia avisado o governo, há três anos (!) sobre o funcionamento "no limite" do sistema de controle aéreo nacional. O ministro da defesa (que, por sinal, não me passa firmeza, o tal de Waldir Pires) disse que "não sabia"!!! Lula deve estar satisfeito; sua cartilha foi aprendida... Virando a página, tem o fato dos leitos hospitalares terem diminuído nos últimos cinco anos (tristeza pouca é bobagem); tem o descalabro da louca que, ao sair do caixa eletrônico, ateou fogo numa idosa porque ficou revoltada quando viu que o INSS não havia depositado sua pensão... E a outra doida que deu uma mamadeira com cocaína para a filha de 1 ano e três meses?? ao chegar à prisão, as detentas, avisadas do bárbaro infanticídio, cuidaram de colocar em prática o antigo (e, cá entre nós, muitas vezes sábio) Código de Hamurabi, aquele do "olho por olho"; está agora num hospital, em coma, com hematomas, fraturas e coisas do gênero. E por fim, para dar um toque menos bairrista às notícias, que tal o senador John Kerry e sua incrível inabilidade ao dizer para um grupo de jovens que estudassem direito porque senão iriam acabar "empacados no Iraque", chamando, pois, os soldados americanos que lá têm morrido às centenas (em outubro foram 104) de burros ignorantes? teve, é claro, que pedir desculpas etecétera e tal.

Então, ler jornal é isso. Essas notícias trepidantes e mais um sem número de escândalos, acidentes naturais, campanha política nos EUA ou uma que li há pouco: "epidemia de obesidade na Europa até 2010". Cruz credo.

Chego à conclusão (do post e quanto às idéias): melhor é falar do meu périplo atrás de queijo para fondue; fui a cinco supermercados, do botafogo até o leblon e "nada, nada, nada...". Por fim achei-o e fica a certeza (e uma boa manchete para colocar no lugar das outras): "Cariocas aproveitam o feriadão para se entregar à culinária suíça". Não atesto a veracidade da notícia, mas ao menos é saborosa, reune os amigos e é romântica, pois "a gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor".