quinta-feira, julho 27, 2006

Um pouco mais

Viajo hoje, novamente. Semana que vem estou de volta.

Mais um brevíssimo recesso - para continuar melhor.

Até mais ver.

segunda-feira, julho 24, 2006

V de Viver

Vou viajando, vendo várias vertentes. Veredas vicinais, viagens visuais. Vi vitrines, via-sacra, viacrúcis. Viadutos, vielas, vilas, vulcões, vivandeiras. Vi vigor, vontade, verdade valorizada. Vitória. Viagens. Videira, vindima. Vinho viscejante valorizado, varietal, viço vespertino. Visei vidros vermelhos, verdes, variados. Viviane, Verônica, Vanessa, Valéria, Valquíria: Virgens vestais vestindo véus vibrantes, vestuário vetusto viabilizando vibrações...

Você viaja, vê vocábulos “vips”, vozes vigentes, vinhetas versadas. Veloz, velejei valentes vagas, ventania verberando velame . Varonil, visitei verdejantes várzeas. Vi variantes, versões. Vaguei verdejantes vales, vilarejos. Viajei viaturas, vapores, vagões, viações.

Viajar: vale vinte vinténs? Viajar: valiosa, venturosa vivência. Ver, voltar, vice-versa: vício vitalício. Vida.

sexta-feira, julho 21, 2006

¡Muy amable!


Li em mais de um lugar que Buenos Aires possui mais livrarias que o Brasil inteiro. Ainda que o fato de encontrar uma afirmação em mais de uma fonte dê maior crédito ao fato, sempre achei tal dado exagerado. Ainda que não sejamos um país de leitores (pelo contrário!) uma cidade possuir mais livrarias que todo um país gigantesco sempre me soou mal. No entanto começo a dar algum crédito...
É nítida a formação diversa do povo argentino para "nosotros". Há, sim, muitas e muitas livrarias, de todos os tamanhos e estilos. É difícil o visitante desavisado não acreditar estar em meio a uma grande biblioteca quando chega na El Ateneo (Avenida Santa Fé). Além de ser enorme, é lindíssima. Exuberante. Magnífica. Clássica. Confesso que me senti um tanto humilhado em minha brasileirice. Sua - em média - maior cultura e sua capital federal com reais ares de capital européia não deveriam dar motivo para os argentinos sentirem-se superiores aos seus vizinhos; mas, se não justifica, certamente explica tal atitude. Olha... muito chique.
Notei que há uma preocupação deles próprios com sua imagem externa. Têm noção, é claro, de serem mal vistos pelos demais latinos-americanos, já que carregam uma histórica reputação de arrogância e presunção. No entanto, mais de uma pessoa por lá me perguntou o que eu estava achando dos portenhos, se estava sendo bem tratado e tal. Sempre respondi positivamente. É uma gente que, além de em geral bonita – homens e mulheres – são elegantes e procuram agora, ao meu ver, integrar-se ao “mundo próximo” e não apenas à velha Europa, de onde foram “criados” em grande semelhança.
Ainda que não se possa andar flanando à noite em lugares vazios, Buenos Aires descansa nossa alma tupiniquim desse dia-a-dia tenso de metrópole brasileira. Os táxis são “de graça” de tão baratos, a temperatura é muito civilizada e a comida... ah, a comida é maravilhosa, descendentes de espanhóis e italianos que são! Restaurantes elegantíssimos e saborosíssimos.
Os argentinos formam um povo apaixonado e vigoroso, amando seus ícones e ídolos históricos, na cultura, no esporte, na política. Vê-se referências a Juan Manoel Fangio, Maradona, os generais Urquiza e San Martin, Gardel, Evita, Jorge Luís Borges ou Che Guevara. A bandeira acima, por sinal, marca um bonito monumento a “los caídos” na guerra das Malvinas, com o nome de todos os soldados argentinos mortos naquela malfadada aventura do então governo militar.
Como eles têm a aprender muito com seus vizinhos, e com a grave crise financeira de poucos anos atrás, parece que vão entendendo “o espírito da coisa”. Nós poderíamos ter a humildade de observar muito de seu espírito e tentar, algum dia, repetir seu modo de encarar as coisas. Mas, certamente, isso não se faz de um ano para o outro, na mesma medida em que não se constroem rapidamente certas livrarias e leitores interessados por elas.

sábado, julho 15, 2006

Breve recesso

Saio de férias por uns dias, férias merecidas e que pedem urgência, como costuma ser.

Vou conhecer novo lugar, cada passo será uma descoberta, um ângulo novo de algo desconhecido mas tão presente: a vida.

Trilhar novos caminhos... ah, necessidade tão fundamental!

(trilhos da linha férrea próxima ao centro de Barbacena, naquele dia.)

terça-feira, julho 11, 2006

As dores do Brasil

1 - O menino nasceu no Natal de 1983. Sua mãe, Solange, então com 22 anos, deu ao garoto o nome de Pierre. "Nome 'importado', vai dar sorte", confiou. Menino negro, pobre, nascido em um país de terceiro mundo, na periferia marginalizada, Pierre cresceu.

Vida difícil, dia-a-dia aprendendo as dores do mundo em casa e na rua, sob o olhar da família que, lutando contra os descaminhos sedutores da adolescência de Pierre, consegue manter o rapaz "na linha". Pierre mantém-se na escola e consegue completar o 2º grau. Seus horizontes são curtíssimos mas teve família, tem a cabeça no lugar e vai trabalhar de servente em uma obra, na região serrana. Pouco tempo depois deixa esse emprego e começa a trabalhar como operador de caixa em uma grande rede de supermercados. No dia vinte e cinco de dezembro de 2005, Pierre completa 22 anos, a idade que sua mãe tinha quando ele nasceu. Está satisfeito com o que conseguiu, o emprego no supermercado parece ser estável; tem bom relacionamento com seus colegas e é bem visto na vizinhança onde ainda mora com a mãe. O ano de 2006 chega com suas novidades. "Daqui há seis meses, a Copa do Mundo!", exulta.

Em 16/01/06, uma segunda-feira, Pierre vai a uma praça encontrar com amigos depois do trabalho. Por volta da meia-noite, policiais em uma patrulha da PM, fazendo a ronda nas imediações, ouvem disparos. Se dirigem para o local e encontram Pierre agonizando. Expira.

Poucos meses depois, Solange ingressa com processo na Justiça do Trabalho, solicitando o pagamento das verbas rescisórias devidas ao filho morto, ainda não pagas pela grande rede de supermercados.

2 - Recebi um e-mail com o relato de uma amiga, mostrando-se decepcionada com a Justiça, com a forma que foi tratado seu problema e de sua mãe, com a desatenção de um Juiz com as diversas provas que ela procurava produzir. Lamenta estar decepcionada com as pessoas, com o baixo nível moral que se mostra em qualquer direção que se olhe, com "a podridão do ser humano", conforme diz. Mostro tal relato para uma colega que fica sinceramente consternada com a longa explanação e diz - corretamente - que só podemos pedir desculpas, embora nem saibamos onde se deram tais fatos. Mas há uma culpa e, ao final de tudo, é nossa - como membros do Poder Judiciário - e como cidadãos.

3 - Preciso de uma informação profissional, com urgência, do INSS. Remeto um ofício para aquela autarquia, pensando "quanto tempo isso irá demorar para ser respondido? Será que terei que reiterar? Será que depois de meses terei que enviar um Oficial de Justiça para 'arrancar' tal informação?". Há uma culpa, mas de quem? Devo me contentar em achar que o funcionário do INSS "não quer nada" ou talvez devo concordar em saber que ele tem outras centenas de pedidos como aquele? Mas será que é inevitável, é inexorável, é uma fatalidade (como sempre gostam de falar na TV) o fato de ele ter centenas de pedidos? Não há forma nesse mundo de os serviços do órgão da seguridade social serem mais eficientes?

4 - A moça vai tentar resolver um pequeno problema, mas que produz graves conseqüências, em uma seção eleitoral do TRE. Fica satisfeita em ver que não há filas, as eleições ainda estão razoavelmente distantes. A funcionária, vendo que a cidadã é de outro estado diz que infelizmente nada pode fazer, e que a eleitora vai ter que ir até seu estado natal. A moça vai embora, mas resolve insistir na seção ao lado. Uma simpática servidora resolve seu problema em menos de cinco minutos.

5 – Dois rapazes chegam do exterior, de viagens distintas. Suas malas aparecem abertas na esteira da área de desembarque; perfumes, pequenos presentes e um laptop “último modelo” desapareceram. As companhias aéreas afirmam não terem responsabilidade sobre os bens. Tampouco é responsabilidade da empresa de infra-estrutura aeroportuária. Se os viajantes quiserem algum ressarcimento provavelmente terão que procurar seus direitos na Justiça.

Será que não há forma de o Juiz daquele processo da amiga ser mais interessado? decerto existem muitos lugares por aí em que o poder judiciário funciona melhor. Por que aqui é assim? Não haveria forma de Pierre estar vivo? E, já que morto está, não haveria jeito de uma grande empresa cumprir dignamente sua obrigação? E a investigação do crime? Não poderia ser mais eficaz, principalmente quando sabemos que uma porcentagem enorme dos homicídios ficam sem solução? E não poderia ter maior responsabilidade sobre seu trabalho a servidora pública da seção eleitoral? E a Justiça, será que dará a devida atenção e solução para o descuido da empresa aérea (ou seja lá de quem for a culpa) em relação aos bens roubados? Por que em outros lugares isso não ocorre?

Para todos esses questionamentos (e tantos outros) há respostas e até soluções, ao menos em teoria. Mas que parecem inexeqüíveis por questões múltiplas que podem ser encerradas na conclusão que se segue, lápide de um fato ocorrido num lugar obscuro, na periferia da cidade e da sociedade.

O corpo de Pierre foi levado para o IML. Lá, o legista, em seu laudo, informou que Pierre morreu devido a "hemorragia interna, lesão de pulmões e traquéia, ação pérfuro-cortante", com ferimento nas costas, exibindo "ferida ovalar no dorso, em região escapular direita, compatível com entrada de PAF [projétil de arma de fogo]" e com os "pulmões transfixados nos lobos superiores (...), com o terço superior da região torácica esquerda com uma ferida (...) compatível com saída de PAF". Portanto o laudo afirma que Pierre foi alvejado aparentemente por um projétil de arma de fogo que entrou pelas costas, parte superior direita, atravessou os pulmões, destruiu sua traquéia nesse caminho, e saiu pelo peito, lado superior esquerdo do tórax.

Examinando os autos do processo trabalhista interposto contra a grande rede de supermercados, encontramos o boletim de ocorrência da polícia civil (e que integra, originalmente, o processo de investigação) afirmando sobre o mesmíssimo caso, categoricamente, em relato de um policial militar, que, além de Pierre haver sido atingido por "bala perdida", não houve testemunhas do fato e que o corpo "foi encontrado com perfurações na cabeça".

domingo, julho 09, 2006

Na noite de domingo minh'alma ficou limpinha e cheirosa

Definitivamente esse não é um blog exclusivamente sobre futebol mas não posso deixar de voltar a esse assunto. Serei breve.

Na noite de domingo, Zinedine Zidane lavou minha alma. Não agüentava mais ver esse jogador ser tão incensado como gênio da bola pela imprensa brasileira e, certamente, mundial. Ele foi um bom jogador? Foi, ganhou alguns títulos para seu clube e país, sendo o mais importante, naturalmente, aquele em 1998. Mas será um fora-de-série, extra-classe (como tivemos tanto que ouvir nos últimos dias) ? Não, não é e, o que é pior, mostrou para todo o mundo sua face mais... recôndita (boa palavra essa).

Sua violenta agressão ao adversário ao final do jogo, no final da Copa, no final da carreira, foi o terrível epílogo de sua participação na partida contra a Squadra Azzura onde já havia cobrado com displicência uma penalidade máxima, o que pode até ser lido como uma forma de pouco caso com o adversário. Ao final, com desmedido destempero, deixou sua seleção em desvantagem numérica, ele que é, ou deveria ser – pela fama que tinha – , o líder daquele grupo. Deixou os companheiros com um jogador a menos e com tal ato absteve-se de cobrar o pênalti ao final da prorrogação, logo ele, cobrador oficial e que, talvez, conseguisse modificar o malogro francês.

Parece que Zidane deixou-se levar pelo doce canto da sereia, como os craques (?) brasileiros. Em horas assim concluo que jogadores de futebol são muito parecidos, sejam do campeonato carioca, potiguar, capixaba ou na final da Copa do Mundo. Se tiver um pouco de sensatez esse Zidane pedirá desculpas não só aos franceses, mas também ao mundo. Mas, se for igual mesmo aos seus companheiros brasileiros vai ver já está curtindo as férias em festas ou comprando mimos para curar a ressaca moral.

Itália!

sexta-feira, julho 07, 2006

Obituário

No Juízo onde trabalho há um processo conhecido por todos, devido ao singular nome do autor: ADOCIL Peixoto.

Hoje chegou uma petição, para habilitação dos sucessores, dando notícia do passamento do sr. ADOCIL.

No atestado, a causa mortis: diabetes.

"Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve"

Há três tipos de pessoas: as que gostam de viajar e botam o pé na estrada; de tempos em tempos conhecem novos lugares – ou paragens já conhecidas e aprovadas – seja de carro, ônibus, navio ou avião (ou trem, onde houver). Há aqueles que gostariam de conhecer novos lugares mas, infelizmente, não podem – por diversos motivos. O mais comum, dureza. E, finalmente, há aqueles, estranhíssimos, que podem, têm tempo, mas não ligam. Devem achar que viagens são perda de tempo (!), dinheiro jogado fora (!!) e apenas uma forma cansativa de passar o tempo livre (!!!). Ok, ok... embora já os tenha chamado de estranhos, devo, por política de boa vizinhança, dizer que “respeito suas posições” e “cada um na sua”. Mas confesso, baixinho, que não dou as costas pra eles não... sei lá...ih...

Para mim, como já ficou claro, viajar é daquelas coisas inarredáveis, fundamentais, basilares, primárias, incondicionais, elementares, básicas, essenciais e... ah, tá bom, chega de sinônimos! Não vou restringir aqui “viagem” àquelas longas, internacionais, “de duty free”. Nasci numa cidade com diversos tipos de destinos a uma hora ou pouco mais de distância. Praias? tem; serra “econômica”? idem; serra chique? pertinho; floresta conjugada com o mar? opa, logo ali, lindíssima. Isso sem falar dos outros estados: metrópole bem diferente do Rio mas com seus inegáveis encantos gastronômicos e culturais? é perto, direção sudoeste; e o que falar do charme de Minas Gerais: ah, Minas, suas curvas, sua gente que tanto me seduz...

Uma grande viagem pode ser para o interior, estradas de terra e o espírito simples e terno da gente daquelas veredas. Uma viagem assim costuma nos levar não só para o “interior do exterior”, mas para nosso próprio e íntimo âmago. Ah, faz tão bem à alma... É claro que uma grande viagem pode ser para um destino distante, uma realização, um projeto, uma descoberta, uma confirmação... Por sinal, há anos li que quando viajamos por turismo costumamos viajar para confirmar impressões sobre o destino; é raro alguém ir para um lugar do qual pouca ou nenhuma informação tem. Se a pesquisa foi bem feita, é muito incomum haver decepção.

Viajar me faz sentir mais vivo. Lembro da pura felicidade um dia, sozinho, início de noite, numa praia de Aracaju – destino que dias antes nem pensava em conhecer, como a maioria das pessoas, por sinal – conversando com uma rapaziada local e comendo acarajé... Daqui a uns dias vou partir para um novo destino e já estão em mira outros inéditos, para os próximos meses; serão decerto, a seu turno, relatados aqui. Quem sabe in loco; a Internet fez dessas coisas, a imediatidade, a aproximação do tempo ao fato (por sinal esse é um tema que tenho pensado em abordar).

Enfim, a expectativa da viagem me revigora. Como qualquer boa expectativa.

(a foto é desde um ultraleve, litoral da Bahia, entre Arraial d'Ajuda e Trancoso)

quinta-feira, julho 06, 2006

Breve nota explicativa

Geeeeenteeem, pára tudooooow...

Seguinte: muita gente não gosta de ter que explicar uma piada, mas eu não ligo tanto assim. Porém, de fato, a piada tem um timing, seu ritmo, seu momento. Se o sujeito conta e ninguém entende - ou a maioria não entende - é porque é má piada ou porque foi mal contada.

Há alguns dias escrevi "Confissão Pública". Até hoje recebo um ou outro comentário sobre o tal texto. Para mim ele teve um objetivo: ser um texto bem-humorado - como costumo escrever e ser no dia-a-dia - procurando dar uma determinada conotação (como bem disse a Joana "Quase achei que vc estava saindo do armário") para no final revelar que o tal objeto do desejo era um frugal carro. Ok?

Pois eu acho (mas vai ver estou errado) que as pessoas leram aquela história muito "ao pé da letra". Na verdade o que menos me interessou ali foi o carro em si. Sim, é um carro lindo e, sim, eu e Clítia chegamos a conversar sobre qual seria a cor mais bonita, etc, etc. Mas, ao menos por ora, não o quero comprar. Mais que isso: não tenho aquela fascinação quase orgástica em relação a um carro. Gosto deles, mas nem tanto!

Sabe, talvez eu esteja errado em enfatizar isso, mas a gente nem se conhece (falo da maioria silenciosa). Não sou tão amante de carros assim e nem fui à concessionária conhecê-lo, por sinal. Há uma fatia generosa de ficção, nada mais.

Grato pela atenção.

:-P

segunda-feira, julho 03, 2006

“I know it's over”

A reunião do mp3, do iTunes e do Emule faz com que possamos voltar no tempo. Foi o que aconteceu hoje à tarde. A compactação da mídia em um aparelho absolutamente portátil, aliado a uma prodigiosa memória, quase que nos força a baixar a guarda e transformar tudo que temos nos tais modernos arquivos digitais. Pois então foi isso que fiz com vários CDs (já ia escrevendo “discos”, veja só...) antigos e, entre eles, “The Smiths – Singles”.

Para quem não sabe (alguém não sabe?), The Smiths foi um grupo inglês, precisamente de Manchester, de enorme sucesso durante toda a década de 80. Muitos fãs a declaram como “a melhor banda de todos os tempos”. Mas, como foi dito, é declaração de fã e tal coisa tem estrita ligação com declaração de mãe: respeita-se, compreende-se, mas acabamos por erguer reservas, naturalmente. Afinal, “a melhor” ou não, o fato é que é uma banda cultuada até hoje e o será, decerto, por muito tempo. Seu líder, Morrissey, após o desfazimento do grupo partiu em uma carreira solo, conseguindo criar alguns hits e, embora sem atingir aquele sucesso de outrora conseguiu levar muito bem sua vida, obrigado (dia desses fez show no Radio City Music Hall; li que cantou músicas novas, músicas da carreira solo – “Every day is like Sunday” – e que a platéia veio abaixo com “Bigmouth Strikes Again” ou “There Is A Light That Never Goes Out”) .

The Smiths marcou muitos jovens daquela época inclusive este aqui que escreve. Posso dizer que era uma de minhas três bandas preferidas – e aí incluindo todo tipo de som. Com The Smiths nós podíamos ensaiar aquela pose de jovem-desiludido-sem-horizontes-curtindo-as-incógnitas-do-amor-e-do-porvir. Como toda banda jovem e para jovens, The Smiths falava muito de melancolia, do amor, da desilusão com o mundo, protestava contra seu país e contra a igreja.

Pois nessa tarde pós-desilusão esportiva (hum, vai ver foi o estopim da escolha) ia lembrando desses fatos enquanto ouvia There’s a light that never goes out (“And if a double-decker bus crashes into us / To die by your side, such a heavenly way to die”), How soon is now (“I am Human and I need to be loved / Just like everybody else does), Last night I dreamt that somebody loved me, música triiiiste, daquelas que faziam a meninada cantar com emoção (“Last night I dreamt that somebody loved me / No hope, no harm / Just another false alarm”), Girlfriend in a coma - ah, a tragédia... (“Girlfriend in a coma, I know, I know, it's really serious / There were times when I could have murdered her / But you know I would hate anything to happen to her (...) Let me whisper my last goodbyes, I know, it's serious”) ou, entre tantas outras, The Queen is dead, fazendo carga sobre a Família Real (“Dear Charles, don't you ever crave / To appear on the front of the Daily Mail / Dressed in your mother's bridal veil?”) – mas vejo agora que em momento algum da música Morrissey cita Diana Spencer, princesa de Gales (bem, talvez mexer com a namoradinha do império britânico fosse demais até para os smiths...).

Deixando de lado considerações acerca da intensidade do inconformismo smithsoniano com “tudo isso que estava aí”, The Smiths marcou época, marcou seu tempo e até hoje embala sonhos, dials, festinhas e ipods, tendo deixado um recado para os meninos de antanho, em “Pretty girls make graves”, mostrando que não precisavam dizer sempre sim se quisessem um dia dizer não (“I could have been wild and I could have been free / But Nature played this trick on me / She wants it NOW / And she will not wait / But she's too rough / And I'm too delicate / Then, on the sand / Another man, he takes her hand / A smile lights up her stupid face / I lost my faith in Womanhood, I lost my faith in Womanhood / Oh ...”).

sábado, julho 01, 2006

Falta de compromisso, falta de concentração e muito enfado

O futebol é um jogo. Como tal, muitas vezes conseguimos conquistá-lo e noutras ele nos vira a cara e vamos para casa sozinhos. Em um jogo muito disputado e com diversos pretendentes à vitória final, a imensa maioria irá perder. Mas há diversas formas de se participar de jogos, sejam eles pique-esconde, o polícia e ladrão da escola, buraco no sábado à noite com os pais e tios, video-game, paciência ou futebol.

Sua falta de compromisso com um jogo pode ter origem em sua crença quanto às poucas chances de sucesso, seu desconhecimento das regras ou sua técnica limitada. Ainda assim, se quiser, poderá jogar competitivamente, com brio. Na escola, no horário do recreio ou na aula de educação física você pode se empenhar em vencer a partida de queimado ou handball. Mas se não quiser se esforçar - porque está cansado, porque está sem saco, porque sua(seu) namorada(o) te deu um fora, por qualquer motivo - você não terá que responder a ninguém, salvo à sua consciência.

Mesmo que você se esforçe, o destino poderá lhe ser ingrato. Você joga no time de vôlei do colégio ou mesmo no time de futebol do condomínio; você joga no time da empresa ou com os velhos amigos; você vai defender uma tese; você concorre a um prêmio: sua mulher, seu marido, seus filhos, sua namorada, seu namorado, seu amigo, todos vão lhe assistir. O que você deve a eles? nada, nada mesmo, a não ser vontade, interesse, brio. Talvez ao demonstrar tais virtudes aliadas à capacidade de vencer, o destino lhe seja condescendente. Mesmo que dê tudo errado, seus amigos e parentes ficarão felizes e orgulhosos.

Perdendo ou ganhando, sendo derrotados ou vitoriosos, o que temos que ter em mente é o compromisso, a responsabilidade. Mas compromisso e responsabilidade são dois objetivos que podem se tornar voláteis, perder seus significados quando o indivíduo atinge um sucesso pessoal muito grande e, como exemplo de tal perda, começa a reclamar da monotonia de castelos onde tem que ficar concentrado em um determinado objetivo - que pessoalmente não lhe fará diferença em conquistar ou não - e, no momento da disputa, põe-se a congratular-se a todo momento com seus amigos que, ao menos naquele exato e preciso momento, são apenas seus adversários e nada mais.

A gente quer responsabilidade. A gente precisa de seriedade. Até no futebol.

Por que não torcer pela Argentina?

Hoje, sábado, o grande Luiz Fernando Veríssimo escreveu no Globo, de um modo que talvez daqui a umas cinco vidas eu consiga reproduzir, o que eu mesmo vinha dizendo desde o jogo entre Alemanha e Argentina, ontem. O árbitro de ARG x ALE garfou os hermanos, como era mais que esperado, num pênalti no final do segundo tempo.

Estava torcendo avidamente pela Argentina e, posso dizer, quase fiquei desanimado ao final do jogo. Se passar pela Itália, as chances da Alemanha perder a Copa são como de você ganhar sozinho a mega-sena acumulada. E sem apostar (impossível? não... vai que acha o bilhete perdido numa calçada qualquer).

Estou com aquele gosto de "tô sendo enganado", como o Jô Soares em seu velho programa de humor quando usava uma maquiagem e um nariz de palhaço, repetindo "eu não sou palhaço; estão me fazendo de palhaço". Daqui a pouco vamos torcer contra a França, mas... em vão?

A partitura da foto é de "Don't Cry for me Argentina".