quarta-feira, agosto 02, 2006

(outra) Casa vazia

Da casa vazia, onde o tempo já passou, salto para outro vácuo. Você já ficou sozinha(o) em um grande escritório vazio? em uma grande loja? e em um tribunal?

Quase oito da noite, hora de ir embora. Boa parte das luzes do tribunal já se apagaram e a impressão é que até a rua já está às escuras. Não se ouve nada além do barulho de fundo do ar condicionado pelos dutos escondidos no forro do teto, o zumbido silencioso dessa máquina onde escrevo e vez por outra o sinal de algum elevador parando nesse andar. Não há ninguém nas mesas, nos corredores, nas escadas, nas filas. Absolutamente ninguém. Numa hora dessa até os ascensoristas já seguiram seu destino de volta para casa, final de uma jornada.

Meu trabalho planejado para o dia já foi feito, amanhã cedo tem movimento, vamos impulsionar os processos de sabe lá quantas pessoas, caminhando rumo à solução. "Solução dos conflitos", "dizer o direito", julgar, condenar, executar os inadimplentes. Somos os dedos da longa mão do Estado alcançando a todos.

Essa é a história sobre como resolvi chegar mais tarde no trabalho - porque precisava executar coisas da vida - mas esqueci de avisar aos demais.

7 comentários:

Anônimo disse...

Oi Frederico. Primeiro muito obrigada por ter tirado um tempo pra ler o meu blog, super gentil. Eu salvei o endereço do seu pra ler com calma também (mas o que já li, achei muito bom, gostei da maneira como você escreve) e o título é espirituoso. É, eu tive outro blog por quase dois anos, mas acabou, era a mesma coisa do atual, eu só quis mudar um pouco mesmo. A gente se fala. Abraço e tudo de bom.

Anônimo disse...

São 20:40 e eu tô no trabalho ainda... um andar enorme e dá até um medinho... mas "je vie de beck" como diria aquele personagem antigo do Jô né?

Anônimo disse...

E aí? Vc foi julgado como tem por hábito julgar? Com a mesma medida? Porque se foi, dançou.

Frederico disse...

E quem não julga o próximo, não é? Vamos lá, aula do dia: eu julgo, tu julgas, ele julga; nós julgamos, vós julgais e eles? julgam, e muito! Agora, para mim isso é um elogio. Mostra que julgo abertamente, assumindo minhas opiniões. Eu: acho, tenho opinião. Tu: se escondes. E, veja como sou bom, lhe poupo de escrever: não vou render conversa aqui.

Frederico disse...

Jade, mas à noite, por outro lado, é uma ótima hora para trabalhar. O silêncio ajuda a concentração.

Luma Rosa disse...

Fetichismo de Raimundo Correia
Homem, da vida as sombras inclementes
Interrogas em vão: - Que céus habita
Deus? Onde essa região de luz bendita,
Paraíso dos justos e dos crentes?...

Em vão tateiam tuas mãos trementes
As entranhas da noite erma, infinita,
Onde a dúvida atroz blasfema e grita,
E onde há só queixas e ranger de dentes...

A essa abóbada escura, em vão elevas
Os braços para o Deus sonhado, e lutas
Por abarcá-lo; é tudo em torno trevas...

Somente o vácuo estreitas em teus braços;
E apenas, pávido, um ruído escutas,
Que é o ruído dos teus próprios passos!
...

Beijus

Denise S. disse...

Frederido, acho trabalhar à noite bastante produtivo. Eu adoraria porder fazer o meu horário e trabalhar das 13:00hs às 20:00hs, sem ninguém me chateando, só eu e o teclado, o teclado e eu... Enfim, bem quieta no meu canto.