terça-feira, abril 18, 2006

100.000 pontos

Em minha santa ignorância ("santa", por força de expressão; a ignorância é ambígua, pode trazer conforto para seu detentor mas, em boa parcela das vezes, acaba por ser danosa. Na presente hipótese - que será revelada a seguir - tendo em vista minha total falta de interesse objetivo no caso, posso arriscar nomeá-la "santa") não entendo o motivo de tanta celeuma e defesa quanto à sobrevida da VARIG. Se se dá por puros motivos afetivos é um disparate.

Procede tal dúvida porque há pouco tempo, em enquete no “Globo Online”, a maioria dos votantes era a favor da salvação da VARIG porque a mesma “sempre foi uma referência dos turistas brasileiros no exterior” e suas lojas são “um ambiente agradável para aqueles afastados do solo pátrio”...

Levando em conta nossa arraigada verve emotiva, até consigo entender que boa parcela da população, não formada por funcionários da empresa, que não tenha amigos, familiares ou conhecidos na companhia, defenda – até certo ponto - a famosa viação aérea, baseada em felizes lembranças de viagens ou velhos jingles de campanha ("Estrela brasileira no céu azul (...) Varig, Varig, Varig!").

Entendo, ainda, que por ser uma empresa que emprega milhares de pessoas diretamente, além de movimentar economicamente outro bom quinhão de brasileiros, causará estragos de ordem financeira a toda essa gente.

(Como sempre as partes mais apaixonadas pelo debate defendem nacos da verdade. Dizem que a VARIG foi prejudicada por anos, suportando sozinha rotas totalmente deficitárias, para cidades do norte do país e que, quando “as novas” companhias chegaram, só “pegaram” rotas “de primeira”. A VARIG é colocada como absoluta vítima, coisa que – ao revés da intenção dos que a defendem – é um acinte à toda a organização administrativa da empresa. “As novas” seriam, portanto, “malandras” e a VARIG seria a pobre coitada; claro que não é nada assim).

Em contrapartida, vejo – devido ao ofício e através da trivial leitura dos jornais - que vários grupos têm decretadas suas falências a todo momento. Quase em sua totalidade são micro e pequenas empresas mas, "de grão em grão", o trabalhador fica na miséria (não esqueçamos o "quase" no início da oração: instituições financeiras e de comércio de grande porte faliram nesses anos, deixando seus ex-funcionários, credores e clientes em maus lençóis sem que tenha havido tal rebuliço pelo Mappin, Garson, Mesbla, Banco Econômico, Ultralar, Delfim...). O que é definitivamente estranho é ver alguns jornalistas, apelando para a boa-fé de muita gente, fazerem furtiva - ainda que paradoxalmente insistente - propaganda pela recuperação da "nossa" VARIG, ocultando os presumíveis reais motivos: muitas ações da empresa em gavetas próprias ou próximas.

Ou, quem sabe, apenas muitos pontos de milhagem.

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