terça-feira, junho 06, 2006

"A day at the races" e outro em Barbacena

Tenho receio desse blog fazer parecer que tenho uma inclinação para coisas tristes, deprês; há pouco tempo escrevi sobre nosso desconforto perante a morte, depois sobre meu trauma aos cinco anos e agora, logo aí embaixo, sobre o rapaz assassinado. Malgrado a cor negra do ambiente - que dá um aspecto lutuoso ao blog - não sou nada depressivo ou desanimado. Dito isso, vou contar uma história aqui que envolve em dado momento até cemitério (!) mas que - a despeito de uma primeira impressão - foi boa e, certamente, marcante.

Como muitos que aqui vêm já sabem, no dia 05 de junho foi meu aniversário. Dia de semana, dia de labuta, não haveria "nada demais". "Algo demais" significa... f-e-s-t-a! Não dá para fazer festa numa segunda. Além disso, eu já havia ido numa MUITO BOA no sábado, em Belo Horizonte e, mais ainda, a minha festa estava (e está) marcada para o sábado seguinte, dia 10 de junho. Iria na segunda-feira apenas a um restaurante no qual Clítia já havia feito reserva.

Mas não sabia que havia um "sensor de sei-lá-o-que" no motor do carro, sensor (esse invejoso) que também resolveu parar para descansar (e não mais voltar a trabalhar) quando fiz uma "escala" numa lanchonete da estrada, no domingo à tarde, voltando para o Rio.

Deixadas burocracias da vida e sentimentos de impotência de lado, frente a elementos que achávamos que iriam funcionar (e nem falo mais do sensor), os viajantes dividiram-se em dois conjuntos: um, composto por uma jovem e querida moça, seu irmão (meu cunhado) e nossa cachorrinha, seguiram viagem para o Rio, na carona de uma boa alma que se viu na mesma situação em que estávamos (mas que teve seu carro consertado) , e outra parte, formado por um único sujeito, que teve que ficar em Barbacena, num hotel, aguardando o conserto. Tal decisão envolveu algumas horas de debate que foram passadas, ainda que em vão, na esperança de fazer o "sensor sei-lá-do-que" funcionar.

Caso você não saiba, eis aqui uma revelação: conserto de automóvel é igual a obra em casa; sempre demora mais que o previsto. Daí que, achando que antes do meio-dia estaria livre, acabei saindo daquela cidade mineira apenas às 7 horas da noite! mas, como disse na introdução, foi um dia atípico e proveitoso. Já que o exílio era inevitável, acordei cedo, tomei um bom café da manhã de hotel (coisa que costuma ser sempre boa), peguei a câmera e sai clicando Barbacena e seu povo; avistei uma igreja ao longe, numa elevação. Uma moça me disse que o nome era igreja "da boa morte" nome que sempre acho estranho. Fui lá ver. Junto à igreja é que notei um arrumadinho e tranqüilo (como soi ser) cemitério em seus fundos. Visitei-o também e, por estranho que possa parecer a um ou outro, encontrei paz ali, onde duas senhoras rezavam o Pai-nosso frente a um jazigo e uma moça pranteava um ente amado em outro; fiquei com pena dela mas minutos depois tive conforto ao vê-la, já fora do campo santo, conversando normalmente com um senhor. Sua vida continuava, afinal das contas.

Após essa nota de pesar e resignação caminhei longamente, visitei as igrejas e acabei chegando ao campus da Escola Agrotécnica de Barbacena, um bonito prédio com uma boa vista da cidade. No meio da tarde rumei para a oficina, aguardando pacientemente a cirurgia que faziam nas entranhas automotivas. Às 19 horas consegui seguir caminho com meu companheiro sensor (verdadeiro censor) e após três horas de incertezas na estrada vazia (segunda à noite, imagine só...) finalmente cheguei em casa, divisando, apenas às 22 horas do dia do aniversário, um rosto conhecido!

Enfim, sempre que possível temos a obrigação de fazer de uma falta algo que dê prazer. Quando o inesperado surge devemos organizar a urgência e, nos casos possíveis, aproveitar em nosso favor o novo caminho. Nem que seja numa terra desconhecida, no dia do aniversário.

10 comentários:

CrissMyAss disse...

Think back now when we were young
There were always tears at the birthday party
You know how children can be
So cruel
That's how it starts, but
What if we never learn how to behave?
I did something, and you never forgave me
I never thought that it could be like this

But now I see
I see you share your cake with him
Unwrapping presents that I should have sent
What can I do?
Must I watch you?

Close the door, dim the lights, blow out the candles
So Happy Birthday again

And it's the same every year
Seems that I remember it as something more, but
You know how children can grow
So strange
I still adore you

What if we never learn from our mistakes?
But then, you'll never know how my heart aches

I never thought that it would be like this
But now I see
I see you share your cake with him
Unwrapping presents that I should have sent
What can I do?
Must I watch you?

Close the door, dim the lights, blow out the candles
So Happy Birthday again
Close the door, dim the lights, blow out the candles
So Happy Birthday again

One day I know he'll forget
To pay you the compliments you're after
You'll hang your sad, aching head
Behind a brittle smile or a shrill of laughter

What if we only get what we deserve?
Somehow I couldn't quite summon the nerve

Upon each anniversary
Then do you ever think of me?
Unwrapping presents that I should have sent
What can I do?
Must I watch you?

Close the door, dim the lights, blow out the candles
So Happy Birthday again

Anônimo disse...

Fred vc é demais!!!! Adorei a sua dissertação sobre o episódio!! Quem diria hein? Mas vc não viu as rosas de Barbacena...lá é famosa pelas rosas e pelos doidos...
Vc arrasou na história e a igreja é linda!!!

Frederico disse...

Cris, não conhecia a música mas procurei me informar e já descobri o nome e o intérprete. Vou fazer o Emule funcionar mais tarde. ;-)

Frederico disse...

Ivana, cunhada preferida (!!), obrigado pelo elogio rasgado. Espero tê-la mais por aqui, para trocarmos impressões sobre esse mundo e época em que estamos vivendo. Beijos !

Anônimo disse...

É a gente tem que tirar algo de bom de tudo né? Acabou sendo um passeio gostoso em Barbacena...
Bão, eu tô chegando agora, nem sabia do aniversário... parabéns!!
Beijos!!

Patrícia Cunegundes disse...

Ei, você me lembrou dos meus "anos loucos" (ficou estranho: loucos, Barbacena; mas tudo bem). Eu tinha um namorado que estudava na agrotécnica e eu saía do Rio na sexta depois da aula e passava o findi por lá. Era tão bom! Adoro Barbacena. Ladeiras, cachaça, comida boa, gente boa...
Meu aniversário tb foi tumultuado -briguei com a Vivo, com o banco, o almoço com os amigos furou... Quando já estava espumando, respirei fundo, entrei num bar e pedi uma bohemia. Estupidamente. Melhorei rapidinho.

Denise S. disse...

Que coisa, heim, Frederico, que capricho do destino! Enfim, dizem que não há acaso, mas Providência Divina, de forma que talvez tenha mesmo sido providencial algum silêncio num dia que costuma ser de guisos e festa.

Luma Rosa disse...

Diria que por ter sido comemorado de forma tão inusitada, nunca mais será esquecido!
Conheço Barbacena, prestei vestibular lá.
Beijus

Anônimo disse...

Transformar uma falta em algo que dê prazer em nosso favor! Essa é uma frase de profunda sabedoria..que eu gostaria muito de aprender...parece que é fácil pensar sobre mas na hora..a dor da falta sempre toma todo o espaço...é um aprendizado contínuo esse.Meus parabéns.

Frederico disse...

Tereza, nem sempre a gente tem como fazer de uma falta algo prazeroso, como salientei lá no texto (“nos casos possíveis”). O que não devemos achar é que, necessariamente, todos os imprevistos vêm acompanhados apenas de dissabores. Não falo em ser Poliana; minhas idéias são sobre ter uma atitude realista com um viés otimista.