sexta-feira, julho 07, 2006

"Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve"

Há três tipos de pessoas: as que gostam de viajar e botam o pé na estrada; de tempos em tempos conhecem novos lugares – ou paragens já conhecidas e aprovadas – seja de carro, ônibus, navio ou avião (ou trem, onde houver). Há aqueles que gostariam de conhecer novos lugares mas, infelizmente, não podem – por diversos motivos. O mais comum, dureza. E, finalmente, há aqueles, estranhíssimos, que podem, têm tempo, mas não ligam. Devem achar que viagens são perda de tempo (!), dinheiro jogado fora (!!) e apenas uma forma cansativa de passar o tempo livre (!!!). Ok, ok... embora já os tenha chamado de estranhos, devo, por política de boa vizinhança, dizer que “respeito suas posições” e “cada um na sua”. Mas confesso, baixinho, que não dou as costas pra eles não... sei lá...ih...

Para mim, como já ficou claro, viajar é daquelas coisas inarredáveis, fundamentais, basilares, primárias, incondicionais, elementares, básicas, essenciais e... ah, tá bom, chega de sinônimos! Não vou restringir aqui “viagem” àquelas longas, internacionais, “de duty free”. Nasci numa cidade com diversos tipos de destinos a uma hora ou pouco mais de distância. Praias? tem; serra “econômica”? idem; serra chique? pertinho; floresta conjugada com o mar? opa, logo ali, lindíssima. Isso sem falar dos outros estados: metrópole bem diferente do Rio mas com seus inegáveis encantos gastronômicos e culturais? é perto, direção sudoeste; e o que falar do charme de Minas Gerais: ah, Minas, suas curvas, sua gente que tanto me seduz...

Uma grande viagem pode ser para o interior, estradas de terra e o espírito simples e terno da gente daquelas veredas. Uma viagem assim costuma nos levar não só para o “interior do exterior”, mas para nosso próprio e íntimo âmago. Ah, faz tão bem à alma... É claro que uma grande viagem pode ser para um destino distante, uma realização, um projeto, uma descoberta, uma confirmação... Por sinal, há anos li que quando viajamos por turismo costumamos viajar para confirmar impressões sobre o destino; é raro alguém ir para um lugar do qual pouca ou nenhuma informação tem. Se a pesquisa foi bem feita, é muito incomum haver decepção.

Viajar me faz sentir mais vivo. Lembro da pura felicidade um dia, sozinho, início de noite, numa praia de Aracaju – destino que dias antes nem pensava em conhecer, como a maioria das pessoas, por sinal – conversando com uma rapaziada local e comendo acarajé... Daqui a uns dias vou partir para um novo destino e já estão em mira outros inéditos, para os próximos meses; serão decerto, a seu turno, relatados aqui. Quem sabe in loco; a Internet fez dessas coisas, a imediatidade, a aproximação do tempo ao fato (por sinal esse é um tema que tenho pensado em abordar).

Enfim, a expectativa da viagem me revigora. Como qualquer boa expectativa.

(a foto é desde um ultraleve, litoral da Bahia, entre Arraial d'Ajuda e Trancoso)

14 comentários:

Joana Calmon disse...

Cara, tem um lugar lindo na Bahia que, quando fui, pouca gente conhecia. Chama praia de Taipu(s) de Fora e fica na ponta do Muta. Agora jah deve estar virando moda, como todo lugar secreto acaba virando... Meu lado politicamente correto me leva a dizer: qual é o problema? Que coisa egoista e elitista ficar querendo que o lugar continue sendo privilégio de uns poucos, né? Tem mais é que democratizar, pô! Mas ao mesmo tempo, quando a gente conhece um pedaço de paraiso, é humano querer que ele continue sendo explorado por poucos... Anyway, se vc tiver em busca de um destino novo, vale a pena. Tem que ir na lua certa (para ver as piscinas naturais). So não aconselho o mês de julho porque chove muito.

Joana Calmon disse...

Eu de novo: Recebi isso e morri de rir (para não chorar). Resolvi mandar para o seu "imbloglio carioca". Bjs.

Por Decreto-lei da Governadora Rosinha Garotinho, os bairros e algumas localidades da Cidade do Rio de Janeiro vão mudar de nome, a começar pelo da própria (ex-)Cidade Maravilhosa, que passará a se chamar: Tiro de Janeiro
Os bairros serão:
- Jardim do Pânico
- Lebronx
- Coca-bacana
- Barra Pesada da Tijuca
- Passafogo
- Recreio dos Traficantes
- Ilha do Seqüestrador
- Assalto da Boa vista
- Piedade! Não me Mate!
- Largo do Metralha
- Corre, Velho!
- Maria Desgraça
- Del Gatilho
- Tirojuca
- Atiraí
- Tiro Comprido
- Bem-não-fica
- Estácio-nou, perdeu
- Cacetete
- Madureza
- Senador Morrerá
- Honório Cruel
- Ilha de Pagdá
- Cidade Cova
- Jerusaleme
- Irajaque
- Gaza-tiba
- São Encurralado
- Roubalengo
- Vila Isabélica
E também mudará de nome a praça:
- Praça AR-XV

Patrícia Cunegundes disse...

Credo, Frederico, eu pensei e você escreveu! Que cousa. Estou aqui, entre malas e organização da casa, me preparando para passar um mês fora - trabalho, trabalho. Mas como é em Recife, deve sobrar um tempinho para eu fugir pro Rio Grande do Norte nos fins de semana, ficar com meu filhote que estará lá em férias.
O pior de ser uma "travel addicted" é ser casada com uma pessoa que não liga para viajar!!!! Ainda bem que ele não reclama das minhas viagens. Sobre sua cidade maravilhosa, estava pensando há pouco que se eu pudesse montar uma cidade com tudo que eu amo, ela seria praticamente um Rio de Janeiro.
Ah, estou escrevendo crônicas da minha última viagem ao exterior, coisa de mulherzinha.
Boa viagem, entonces.

Patrícia Cunegundes disse...

E para vc não ficar pensando que eu sou mulher apenas de viagem "duty free": viajar pelo sertão do Ceará foi uma das melhores coisas que já fiz na vida. Tem fotos no meu flick!

Frederico disse...

Patrícia, está perfeita a reunião do seu comentário com o da Joana e os novos nomes de bairros cariocas. O Rio de Janeiro é lindo demais mas padece com a insegurança, com a política do cada um por si (que torna-se visceral e acaba não só cada um trabalhando por si, vivendo por si, mas também roubando por si, matando por si, violentando o próximo por si). Disse muito bem a Fernanda Abreu, “Paraíso da beleza e do caos”.

Frederico disse...

Joana, há uns dez anos passei um mês na região de Salvador, uns 30 km ao norte, precisamente em Lauro de Freitas. O local é bem urbanizado mas por comportar um gigantesco condomínio (Vilas do Atlântico) - que sozinho poderia ser um município - sua praia (longuíssima) não enche muito; é muita praia para poucos banhistas. Durante a semana você pode fazer o que bem entender na praia e ficará em segredo. Anos depois fiz a tal viagem citada no texto a Sergipe e Alagoas... ah, tem cada lugar... a praia do gunga, ao sul de Maceió... fantástica. E ano passado conheci Porto Seguro e sua região. Com um carro alugado andei uns 700 km em uma semana; ao sul de Trancoso tem praias fenomenais... espelho, caraíva (poucos lugares com energia elétrica!)... é um “must go”. Mas é aquilo que vc citou: se todos devem ir, vão aparecem as pousadas, hotéis e a seguir os resorts. Ah, falando em resort: gosto de coisa boa e confortável MAS (eu já ia esquecendo, pra vc ver como “gostamos”) não indico a costa do sauípe. Fiquei uma semana lá, não agüentava mais! O serviço - ao menos em alta temporada - é muito falho! É um “must don’t go”. :-)

Frederico disse...

Patrícia, eu vi as fotos lá no seu flickr. (você é minha madrinha no flickr, esqueceu?) ;-)

Patrícia Cunegundes disse...

Caraca, esses nomes dos bairros do Rio são o máximo. Já havia recebi e sempre morro de rir com eles.
A Costa do Sauípe não é meio "fake"?

Frederico disse...

Pois é, Patrícia. Vou fazer um resumo... O negócio lá é o seguinte: uma área gigantesca muito bem cuidada, vegetação nativa (porém plantada), campo de golfe, hotéis (cinco) de redes internacionais (pasteurizados portanto) e praia ruim (para os altos padrões do Nordeste); É tudo limpinho, bem pintado, bem arrumado (longe de mim não gostar de coisa limpa mas, no caso, não haver nem uma folha de árvore pelo chão não passa naturalidade; houve vezes, pedalando com um amigo por uma longa ciclovia interna, que achei que ia aparecer um tiranossauro; parece muito [quando está tudo bem!] com o parque dos dinossauros; certinho demais). Mas nada disso pode ser propriamente “ruim”. A classificação “ruim” aparece em duas questões: os preços, elevadíssimos, para gringo (uma lata de cerveja na “cidadezinha” central - essa, sem dúvidas, declaradamente fake - era uns 5 reais; agora é mais, claro); e o pior: o atendimento. O pessoal é esforçado, bonzinho, mas MUITO fraco! quando você reclama ouve aquela frase que supostamente faria tudo ficar bem: “ah, sorriiiiiiia, você está na Bahiiiiiiia...”. Devem ser treinados, etc, etc mas esperar 45 minutos por uma caipirinha na piscina; nunca haver espreguiçadeiras na praia ou na piscina para todos; pedir um balde de gelo no quarto e estar esperando até hoje; ir para o jantar antes de terminar o Jornal Nacional, caso contrário ter que encarar uma fila de uns 30 minutos, de pé; testemunhar, nessa mesma fila, um gerente dando o maior esporro numa subordinada (que deveria organizar a “fila da janta”); numa outra noite não haver ninguém para organizar a fila e pegar a prancheta nós mesmos (VERDADE!) e encaminharmos o povo para as mesas e, segure-se: pedir um chopp na boate e o copo vir com um marcão de batom na borda!!; tudo isso ninguém atura! No início achamos que estávamos sendo chatos; mas no decorrer de uma semana de roubada vi MUITAS pessoas reclamando. Em suma, passe ao largo do Sauípe!

Neila Baldi disse...

Sou das tuas. Como deves ter visto pelo meu feriadão, tb adoro viajar. Obrigada pela leitura frequente. Abs

Anônimo disse...

Fred, com certeza quando viajamos nos inundamos da natureza e essa nos leva ao âmago de nós mesmos pjorque no fundo somos parte dessa mesma natureza e toda hora quando a encontramos toda poderosa nos reencontramos, seu texto é lindo e com certeza , hoje em dia , uma das coisas que não abro mão é viajar..nem que seja só por um final de semnana..Quem puder um dia conhecer Cumuruxatiba, reserva do Ibama na Bahia não deixe de ir, é lindo, uma vila de pescadores. Não sei para onde você vai mas de qualquer forma boa viagem...eu vou pra perto dessa vez porque tenho pouco tempo..pra Penedo,Mauá, subir o Altiplano das Agulhas Negras, Parque Nacional de Itatiaia..mas no final do ano vou passar 40 dias em Cumuruxatiba...beijos Tê

Anônimo disse...

Quanto a essa questão do tempo, bem, tb penso nela...na verdade o tempo não existe, é uma abstração do nosso intelecto...pense nisso, vai sair um pouquinho de fumaça mas pensa nisso tempo e espaço são formas que o intelecto tem de se colocar no mundo...na verdade não existe tal coisa como tempo

Patrícia Cunegundes disse...

Fred, já tinha mais ou menos idéia de que era uma furada. Agora tenho certeza. Já viajei. Estou em Natal, me preparando para ir para Recife. Serão poucas atualizações no zeromeiaum, pois a ralação me espera!

Denise S. disse...

Viajar é bom porque a gente de se despoja de si mesmo e ganha um ponto de observação: observa-se tudo mas não se tem compromisso com nada. É como a vida deveria ser, mas, se fosse, não teria a mesma graça. Tirar férias é a melhor coisa do mundo e estou em contagem regressiva para as minhas. Oba!