domingo, agosto 13, 2006

O Cirque du Claudiô

Talvez você tenha lido e até visto alguma foto do lavrador de Juiz de Fora que veio para o Rio em uma carroça, com dois de seus quatro filhos, um de cinco e o outro de seis anos. Os outros dois, ainda menores que esses, ficaram em Minas com a ex-mulher. Para quem não soube, um resumo.

O lavrador mineiro Cláudio Márcio da Silva chegou há cerca de uma semana ao Rio de Janeiro após um mês viajando pela BR-040 desde Juiz de Fora. Cláudio enfrentou a longa jornada com pouquíssimos pertences e tendo que contar com a ajuda das pessoas que encontrou pelo caminho para conseguir alimento para si, os dois filhos e para a égua Darlene, companheira de longa data na roça e que foi incumbida de vir ao Rio de Janeiro transportando a família. Ao chegar ao Rio, Cláudio conheceu em um subúrbio uma jovem de 17 anos, grávida, que juntou-se à trupe. A presença de Cláudio chamou a atenção da imprensa e dos cariocas em geral, em vista da inusitada presença de um grupo mambembe descendo a movimentada avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, em uma carroça. A intenção de Cláudio era ir morar na Rocinha, no bairro de São Conrado. Em seu caminho rumo à famosa favela Cláudio descobriu que não teria como subir com sua carroça e égua e, em vista disso, fez o caminho de volta para o subúrbio, indo morar de favor em uma favela chamada “Pára-Pedro”, próxima à CEASA da avenida Brasil, conseguindo abrigo com um amigo que fez durante a jornada entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro.

Dentro do complexo panorama que compõe o Brasil, é curioso notar que ao mesmo tempo em que, de forma anônima e inocente, o grupo de Cláudio chegava à cidade grande, aportava no Brasil a companhia do Cirque du Soleil. Enquanto o grupo canadense vem, a reboque de sua imensa e merecida fama, apresentar o espetáculo "Saltimbanco", a trupe capitaneada por Cláudio chegava atrelada à égua Darlene, vindo tentar “vencer na vida”, como Cláudio afirmou à reportagem de O Globo.

No entanto, se o Cirque du Soleil mantém sereno controle sobre sua reputação e glória, não se pode dizer o mesmo de Cláudio sobre Darlene. Nesta sexta-feira o lavrador teve sua carroça e égua roubadas quando deixou-as presas apenas com uma corda, na CEASA, onde foi à procura de algum trabalho, sem imaginar que poderia ser assaltado.

A insólita e ingênua aventura do carroceiro sofreu um forte abalo. Levaram a “tenda” de seu grupo saltimbanco e agora sua inglória missão na cidade grande pode ter definitivamente terminado. “O show não pode parar” mas no caso de Cláudio parece que infelizmente nem teria como começar.

9 comentários:

Anônimo disse...

Uma carroça e a "Darlene" são bem mais fáceis de encontrar do que uma Mercedes último tipo. Um Mercedes tem desmonte e rende. Já uma "darlene" nem na zona do baixo-meretrício daria uns trocados.
Se a égua fosse do tal circo a puliça já a teria encontrado prá faturar uns $$

Frederico disse...

É strix, talvez a polícia fosse mais eficiente; mas vamos ver se haverá mais algum capítulo dessa saga; quem sabe...

Anônimo disse...

Ai, fiquei morrendo de dó do Claudio ... e a Darlene tadinha, será que estão cuidando bem dela?!

Frederico disse...

pois é, Fernanda... vai saber... Pode deixar que ficarei atento a alguma notícia sobre esse caso. Se voltar a aparecer algo, coloco aqui. Esse país tem absurdos para "todos os gostos". Essa é mais uma da inúmeras tragédias do cotidiano. Uma vergonha para a sociedade brasileira que, em 5 séculos, avançou tão pouco socialmente.

Anônimo disse...

nossa amor tô morrendo de pena desse sujeito!! Que simplicidade e humildade desse senhor!! Que infelicidade a dele de ter caído logo numa favela aqui do Rio achando que as coisas poderiam ser melhores... Ainda tenho esperança de pelo menos alguém que possa fazer alguma coisa por essa caso, faça... Quem sabe nós dois podemos fazer algo??

Patrícia Cunegundes disse...

Ai, Frederico, o mundo é cruel demais, né? Putz. MEUDEUSDOCÉU.

Frederico disse...

É Patrícia, essa história não é fácil. E eu imaginava (aí o ingênuo sou eu) que pessoas assim não existiam mais, ao menos tão perto, ali em Juiz de Fora... mas existem e o Brasil, essa guerra, esse "salve-se quem puder", não é exatamente a mãe-gentil acolhedora. Pelo menos não o Brasil como sociedade. A terra continuando dando o que nela plantam mas o Cláudio não achou que estivesse valendo a pena.

Anônimo disse...

Frederico , a ingenuidade dele me intristece sabe, ou melhor me partiu o coração.

Anônimo disse...

Vixe, menino, tô quase ás lágrimas, manchando minha reputação de dura na queda.
É, ainda existem inocentes na Babilônia...
Pena que sejam tragados tão rápida e cruelmente na selva de concreto.
Sorte e saúde pra todos! (sobretudo pro Claudio e pra Durlene)