sexta-feira, outubro 13, 2006

Ladrões de sonhos?

Volto ao tema do avião da Gol que caiu em meio à selva amazônica. Volto não para discutir o caso em si, a dinâmica da colisão, o espanto e tristeza de muitos ou a culpa desse ou daquele. No entanto o número de falecimentos serve como termo de comparação com outra coisa bem menos grave – porque ao menos intrinsecamente não envolve vidas – mas muito presente em nosso dia-a-dia e, bem ou mal, importante, visto que mexe com os sonhos e esperanças de tantos milhões de brasileiros semanalmente. Espero estar MUITO errado, mas estou intrigado.

Não sei se vocês notaram, mas nesse acidente morreram pessoas que diretamente ou indiretamente nós conhecemos. Eu, particularmente, não conhecia ninguém, mas entre aqueles passageiros estavam muitos conhecidos ou amigos dos amigos. Nessas duas semanas já ouvi (e li) muitas histórias e sem esforço, cito três presentes naquele vôo: um funcionário do cunhado de uma amiga minha; o ex-namorado de uma amiga do meu irmão; e um ex-dentista do meu pai, lá do Espírito Santo. Agora mesmo, ao ler o blog da Teresa, “La vie est belle” (link aí ao lado), tomei conhecimento de mais uma pessoa falecida no acidente que, afinal, é “amigo do amigo”.

Pois bem. Essa constatação fúnebre me levou a uma impressão que, se verdadeira, cobriria uma de nossas certezas basilares (como sociedade) com o manto negro do escândalo e da completa descrença (além do que, provavelmente traria consigo uma revolta de conseqüências inimagináveis). Faço, portanto, uma singela pergunta, mas que está a me afligir: alguém aí já conheceu um ganhador de mega-sena ou prêmio equivalente?

Parece algo desprezível e aparentemente até mesquinho frente àquela tragédia. Mas a possibilidade de existir um embuste torna a questão dramática. Espero que alguém diga ao menos “sim, tinha um sujeito no meu bairro, o qual eu nem conhecia mas todo mundo falou, que ganhou x milhões da mega-sena e sumiu, levou toda a família, etc etc etc”. Será possível que em tantos anos de quina (lembram-se?), sena ou mega-sena NINGUÉM conheça, nem de longe, algum nouveau rich da loteria? Espero que essa minha dúvida seja absurda e infundadíssima, mas dá um certo temor... Ocasionalmente surgem histórias sobre movimentos escusos em relação ao sorteio de “mega-senas” da vida. Sabemos que fabulosas somas de dinheiro costumam envolver interesses do mesmo quilate. Interesses que não medem nenhum tipo de conseqüência para dirigir os efeitos de acordo com sua vontade. Talvez sejam apenas boatos, como tantos que existem por aí.

Mas que é uma questão curiosa, isso é.

17 comentários:

Marilyn disse...

... verdade, essa história da Gol mexeu com muitos.
Você dever ter lido em meu blog, não sei, mas perdi uma amiga da faculdade. Muito triste. Não podemos medir a dor de ninguém... muitos perderam família, enfim.
Mas foi uma semana bastante complicada, juntou muita coisa...
... bom, e se eu falar que conheço duas pessoas que ganharam prêmios na loteria!
Ok, imagino que não tenha sido na Mega, mas já é um avanço.
Beijo!

CrissMyAss disse...

Fred, onde v quer chegar com isso?
Que fizeram uma aposta de que o avião ia cair, e manipularam o resultado?
...
Ora, todo dia morre alguém que, se não é seu conhecido, é conhecido de um conhecido. Porque todo dia morre alguém.
Como num acidente morre um monte de gente ao mesmo tempo, aumentam as chances de entre os mortos estarem pessoas conhecidas de conhecidos, assim como aumentam as nossas atenções para o fato, ficamos mais ligados.

Não estamos comparando a chance de haver um desastre aéreo com ganhar na loteria, mas sim de conhecer alguém que estava num desastre aéreo contra conhecer alguém que ganhou na loteria.

Vou chutar uma explicação:
1.O Rio de Janeiro (ou melhor, a Zona Sul) é uma província, e todo mundo se conhece.
2.Na Z. Sul concentra-se a maioria das pessoas do Rio que viajam de avião, ou que conhecem pessoas que viajam de avião.
3.Isso já cobre o lado carioca da questão, que seria de pelo menos 50% dos passageiros, teoricamente.
4. O fato do vôo vir de duas cidades duplica a chance de se conhecer alguém que conhece alguém OU em Brasília OU em Manaus. (Meu irmão, por exemplo, pega muito esse vôo, tanto pra vir de Brasília como para vir de Manaus).

Trata-se de um universo de centenas de milhares de pessoas (pessoas no Rio, em Manaus ou em Brasília, que conheçam pessoas com condições econômicas de usar o avião) e não, como pode parecer, um universo de milhões de pessoas, que é o universo a considerar no caso de "jogadores de loteria".
No primeiro caso, um universo menor é exposto à possibilidade de conhecer alguém que conhece alguém entre 150 pessoas de cada vez, tenham elas caído num avião ou ido ao cinema. Ainda são 150 pessoas que fizeram algo juntas.
Estar entre as que sofreram o desastre é que é um puta azar, este sim comparável estatisticamente à sorte de ganhar na loteria.
Bastaria comparar o número de pessoas que já morreram em desastres aéreos ao número de pessoas que já ganhou na loteria (só contam as que ficaram muito ricas, ganhar no terno ou na quadra não conta, essas são como bater de carro).
Deve haver mais mortos do que vencedores de loteria, porque estes são poucos de cada vez, e os desastres, quando acontecem, matam às centenas.
Os prováveis vencedores de loteria poderiam ser de qualquer classe social e viver em todas as cidades do país, um universo muito maior, pois basta jogar para concorrer, enquanto é preciso ter dinheiro para estar dentro de um avião e estar em uma determinada cidade para sofrer o desastre.

Agora, se você conhece algum deputado, as chances de você conhecer algum vencedor de loteria aumenta muito...

(Ahahahaha explico bem pra caraca!!!)

Frederico disse...

Cris, você tem toda a razão no que se refere à comparação entre os dois universos: aqueles que viajam de avião (muitíssimo menor) e os que jogam na loteria. Eu tinha pensado nisso também, ou seja, o fato de estarmos falando de um grupo comparativamente pequeno e no qual estamos inseridos. Se houver um acidente num grotão do país ou numa favela distante - próxima não vale porque muitos que trabalham nas portarias, nos restaurantes e nas cozinhas nossas moram lá - provavelmente nenhum conhecido dirá, como a Marylin logo aí em cima, que tinha um amigo ou colega no acidente. MAAAS... Mas continuo intrigado em ver - e (novamente) a Marylin é o mais recente exemplo - tanta gente apontando pessoas próximas num grupo restritíssimo de 154 mortos. A cada DOIS dias morre esse número nas estradas do Brasil (anteontem mesmo, você deve ter visto, morreram 19 nas estradas federais). Meu questionamento não pretende trombetear "ah ha! uma fraude! deve ser coisa do PT!!" mas, apenas, expôr uma curiosidade MINHA. E, decerto, mais de 150 pessoas (bem mais!) já ganharam mais de... sei lá... 5 milhões de reais nessas loterias aí. Cadê? (ah! o dentista citado é do ES, a Marylin de SP e a Teresa mora lá em Paris, todos BEM LONGE dessa aldeiazinha que é a zona sul - com muitos chatos, e olha que falo com isenção; nasci e moro aqui - do Rio de Janeiro. ô Cris, desculpa se desmoronei seu sonho com a Mega-Sena, heheheheheheee... ;-)

Ane Brasil disse...

Sei não... antigamente eu achava que o ibope era uma lenda, 'ingual' saci pererê... aí um dia um mininu du ibopi apareceu lá nu barracu i mi intrevistô... mi sinti até importanti... hehehehe!
Aí, acho que é teoria da conspiração demais.
sorte e saúde pra todos!

Patrícia Cunegundes disse...

Fred, nunca conheci ninguém que tenha ganho um prêmio desses. Nem que tenha sido entrevistado por algum instituto de pesquisa (pense nisso, pense nisso). Mas conhecia pessoas que estavam no 1907. E meu tio conhecia o ten coronel que caiu com o avião no ES ontem. Ainda bem que minha fome de viagem é maior do que o medo de avião!!!

Patrícia Cunegundes disse...

Ei, acabei de conhecer uma pessoa que ganhou na loteria!!! Foi em 73, mas tá valendo, né?

Felipe disse...

Ola

Aqui em Brasília rolou o mesmo que rolou com vc por aí... Conheço um monte de gente (por motivos óbvios, já que tinha 70 e tantas pessoas desembarcando aqui) que conhecia alguém que morreu ou que perdeu pai, irmã, etc. Trash demais.

Mas loteria... bem, tenho um amigo que já fez a quadra duas vezes. Mas mal deu para pagar novas apostas. A Sena não conheço ninguém que ganhou não. Só o João Alves, que levou o prêmio várias vezes.

Abração

PS: Vi um comentário seu lá no meu blog, no texto dos anos 80 (antigo) e vim parar aqui. Vou colocar um link lá, beleza?

Abração!!!

Frederico disse...

Mercedes, é coincidência sim... mas uma coincidência bem funesta né... Agora essa família no litoral do ES... que hor-ror.

Frederico disse...

Patrícia, também não conheço nenhum entrevistado por IBOPE ou congênere. Mas a Ane Brasil disse lá em cima que já foram na casa dela... Quanto à pessoa que ganhou em 1973 (e ganhadores de quadra): tudo bem, até aí eu mesmo conheci um camarada, há uns 200 anos, que ganhou na loteria federal um FIAT 147 zerinho (estamos falando de 1979, por aí). Mas não quero saber de 1000, 10000 reais. Quero 10 milhões pra cima. Quem ganhou? ;-)

Frederico disse...

Felipe, pode colocar o link lá, à vontade. Beleza. // Agora o FELIPE lembrou muito bem desse detalhe... o João Alves ganhou um porrilhão (gostou do termo, Ane Brasil?) de vezes na loteria. Não é esquisitão? “Pobres mortais” fazem a quadra, como o amigo do Felipe... caraca, tô começando a achar que há uma grande enganação nesse troço de 35 milhões da mega-sena...

Denise S. disse...

O universo é menor, Frederico. E o perfil também. Mega sena é todo mundo, povão incluído, viagem de avião é mto menos gente.
Ainda assim, meu pai já fez uma quadra, ou uma quina, e na época levou uma graninha. Não era muito mas caiu bem.

Frederico disse...

Pois então, Denise. Não estou numa cruzada “a mega sena é caô”. Mas então, pelo visto, a sorte no jogo não costuma estar ao lado das classes A, B e eventualmente C. Pelo visto só gente dos rincões mais afastados e obscuros é que é agraciado pela fortuna.

Patrícia Cunegundes disse...

Frederico, olha o link pra notícia do dedo: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1193625-EI5030,00.html

Mosana disse...

credo.. olhando por esse angulo desisti de jogar na mega de uma vez por todas!
beijos

Anônimo disse...

Primeiro, parabéns para a Mamy!! Mesmo atrasado, dê beijus nela por mim!
Estou rindo até agora, imaginando o Batman carioca! (rs*)

Eu conheci uma pessoa que ganhou na loteira esportiva, nem sei se existe ainda, era criança. Depois disso, nunca mais!! Fiquei encabulada, será?? Nesse país podemos esperar tudo!!

Aconteceu comigo um outro fato com relação a esse acidente.
Uma criança estava ouvindo a conversa sobre esse assunto e chamou a atenção dizendo que não aguentava todo mundo falando da mesma coisa o tempo todo.
Eu disse que era questão de humanidade, todos ficam tristes com a morte de pessoas mesmo que não conhecidas e que tínhamos de ser solidários!
Ela respondeu que na África, por exemplo, morria a todo momento números parecidos de crianças, de fome e doentes e mesmo assim ninguém se tocava.
Poizé...criança globalizada!

Boa semana

Frederico disse...

Ilustre presença de Luma (não mais ilustre que os demais que vêm aqui me fazer companhia, decerto). Modifico: Cara e rara presença de Luma! :-)
A criança tem razão em sua lógica plana e direta (do tipo "o rei está nu!"). Mas daqui a uns anos vai começar a se identificar com outros e, desses, em maior ou menor escala, sentirá seus pesares ou sucessos (além do que, no caso do avião, muita gente conhecia vítimas).

Frederico disse...

Patrícia, fui no link. Engraçadíssima. Mostrei lá no trabalho. Moças horrorizadas. ;-)