quarta-feira, maio 23, 2007

Pearls

"Vivemos numa sociedade absolutamente heterogênea".

Dentro da linha da "frase-feita" esse é, sem dúvidas, um "conceito-feito". Feito e comprovado. Há inúmeros exemplos que podem confirmar tal afirmação, exemplos de toda ordem e sob diversos sentidos.

A breve história que se segue é um deles.

Ontem um conhecido meu, advogado, veio me contar que estava chegando da 5ª DP, próxima ao tribunal. Foi lá porque havia sido chamado por algum cliente seu - ou conhecido de um cliente, sabe lá - que havia sido conduzido àquela delegacia porque havia sido flagrado vendendo CDs piratas no centro da cidade. Na verdade disse o elemento que não eram CDs e sim, apenas, apresentava aos compradores cópias das capas dos discos, atividade bastante comum nas calçadas do centro e que visa, dessa forma, a fugir da punibilidade do ato, qual seja, vender artigo pirata, contrabandeado ou roubado. (Na verdade devia estar mostrando os discos mesmo senão não teria sido levado para a DP)

Acontece que os problemas do "vendedor" aumentaram em muito quando, no caminho da delegacia, a polícia abriu uma das mochilas que o sujeito levava consigo e encontrou nove papelotes de cocaína...

Ao chegar à delegacia o advogado foi conversar com o (agora) "vendedor" de substâncias entorpecentes e o mesmo afirma, a sós com seu advogado: "pô, eu não cheiro não, doutor! não mesmo! é que eu tava sem grana e arrumei isso aí pra arrumar algum!!...".

Aí eu me faço algumas perguntas e chego àquela conclusão do início: é incrível como essa sociedade é diversificada. Num caso como esse, chega a ser surpreendente que um camarada resolva vender cocaína e não saiba das conseqüências entre ser consumidor e traficante. A diversidade da sociedade, nesse caso, se escancara na disparidade de nível de informação e me vem uma questão: pode um sujeito assim ser colocado junto (fisicamente e legalmente) com reais traficantes de drogas?

É de ficar boquiaberto.

-o-

Voltando para casa, ouvindo a Band News.

A CEDAE (companhia de águas e esgotos do Rio) anuncia que vai começar a utilizar dispositivos na rede de esgotos de grandes consumidores (fábricas e condomínios, por exemplo) que estejam inadimplentes há bastante tempo com o pagamento de suas contas. Os dispositivos são "tampões" que impedem que os dejetos sanitários sigam para a rede pública de esgoto. Assim, o esgoto voltará para dentro das unidades caloteiras, fazendo aquele estrago que podemos imaginar.

Por conta disso, foi entrevistado o presidente da CEDAE (que, por sinal, escrevia um blog até há poucos meses, no Globo online). O presidente, bem austero, vai explicando a nova tática daquela empresa pública quando sai com essa: "...sim, então essa operação, que estamos chamando de "vai dar m", vai combater...". Ah?!?!?!

Olha, que bom que os vidros do meu carro são escuros senão iriam me tachar como louco, tal foi a forma como dei risada (a não ser que a outra pessoa também estivesse ouvindo a rádio). Imagine um sujeito todo sério, terno e gravata, voz empolada, olhando para o repórter e dizendo "pois bem, a operação "vai dar m"...

E é assim mesmo, "vai dar ême", que ele fala! É ou não é MUITO BOM !!?!?

Não tem inferno astral que resista. :-)

Na imagem, o governador (acompanhado do presidente da companhia de esgotos - olha ele aí!) parece já sentir os efluvios decorrentes da utilização dos tampões nos grandes consumidores.

5 comentários:

Denise S. disse...

Vai dar "m"? tá brincando ou é verdade? meus sais...

Frederico disse...

É sério Denise! não foi piada por mais absurdamente incrível que isso pareça.

Anônimo disse...

Na história da prisão do cara que anunciava CD pirata e vendia droga o que me impressiona é a facilidade com que as pessoas racionalizam seus erros. Isso acontece desde o mais pobre até o mais rico. Entre os ricos, aliás, é muito mais fácil provar "inocência" porque conseguem os advogados mais inteligentes e bem relacionados. Antigamente quem era pego em flagrante assumia o erro. No caso dos japoneses, até se suicidavam, de vergonha. Hoje é comum negar até mesmo diante da gravação de imagem e som ou achar que tudo é normal quando é conosco ou com nossos amigos.

Frederico disse...

Isso aí, Plínio. Antigamente os outros eram o (nosso) inferno. Agora, “Os errados são os outros”. Há essa facilidade de NUNCA admitir erros próprios e isso está espraiado por todas as atividades da sociedade, ao ponto que - exemplo esportivo - o jornalista de O Globo demonstrou em seu texto verdadeira surpresa porque o goleiro do botafogo saiu de campo admitindo o erro: “errei ao levar o gol” (um frango). Tal afirmação era louvada pelo jornalista. Eu é que fico surpreso. O que deveria falar o goleiro? “O campo estava molhado e a bola tomou um efeito inesperado” ? Para você ver, as pessoas já esperam uma desculpa, qualquer desculpa e se surpreendem quando alguém vai pelo caminho mais simples e correto: “errei”.

Leandro disse...

Pela primeira pérola:
Putz!

Pela segunda:
Putz! Putz!