segunda-feira, abril 17, 2006

Liberdade à tardinha

Minas Gerais é berço de muitos brasileiros ilustres, motivos de orgulho para o país: João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade e Pelé. Alberto Santos Dumont, Ary Barroso e Tiradentes.

Tem o tamanho aproximado da península ibérica, sendo maior que a Espanha ou a França e sua história muitas vezes se confunde com a história da nação brasileira. Minas é um estado de fértil riqueza mineral e calorosa presença humana. O atraente paladar de sua culinária típica combina-se perfeitamente com o modo de ser do mineiro: amistoso, tradicional.


A cena durou o tempo de poucos segundos. Vinha dirigindo lentamente por uma sinuosa, estreita e tranqüila estrada no interior de Minas, aproveitando o encantamento da bucólica paisagem rural, próximo a Santa Bárbara do Tigúrio. Alcanço um povoado, um pequeno grupo de casas, à beira da estradinha. Quase sinto obrigação de pedir desculpas por impor àquele sossego o ruído do motor do automóvel.

Três homens estão de pé à margem do caminho. Um deles, mais velho que os outros dois, está pronto para arremessar algo que tem na mão, mirando em um ponto à sua frente, distante uns vinte metros na terra batida. Os demais observam. No exato momento em que passo pelos três, o homem lança o que parece ser um pequeno disco, cerca de doze centímetros de diâmetro. O projétil alça um breve vôo, uma suave parábola, e cai à terra, deslizando por alguns metros, passando no estreito espaço que separa dois pequenos pinos erguidos no terreno. O jogo lembra a bocha ou aquele jogo, visto no cinema, de arremesso de ferradura. Não sei ao certo qual o objetivo do homem mas parece que foi um bom lance. Se o objetivo era fazer a peça passar naquele apertado espaço, atingiu a perfeição. Ainda que seu intento fosse derrubar algum dos pinos, chegou muitíssimo perto disso. De um modo ou de outro, demonstrou grande destreza. Agora o pequeno grupo já tinha ficado para trás. Sua imagem se mantinha no retrovisor e, logo, apenas na mente.

O lançamento do velho homem, em meio àquele cenário quieto e sereno, em um final de tarde de domingo, pareceu boa síntese da vida e do espírito do lugar. Seu preciso arremesso demonstra a incessante repetição daquele gesto, prática de longos anos. O “mundo exterior” não afeta a rotina dos homens. Não há shopping centers, não há futebol ou aborrecidos programas de variedades da TV. Em meio ao silêncio daquela paragem, perturbado vez por outra por um carro que passa, eles se concentram em seu anônimo e antigo jogo.

Como o tradicional e suave, mas não menos firme, comportamento mineiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amor adorei esse programa!descobrir cidades e te mostrar essa vida pacata do interior , a simplicidade e a hospitalidade de
Minas é um dos meus prazeres favoritos, pois eu amo minha terra, minha origem, meu povo! Te colocar em contato com meu mundo, com o que eu vivi é muito importante para mim. Tenho certeza de que o fato de gostar tanto de mim e de minha família é que te faz apreciar tanto! Obrigada por tudo e continue descobrindo os encantos de Minas...

Anônimo disse...

Eu sou carioca, adoro o Rio, mas amo Minas Gerais de paixão, lá tem tudo o que gosto. Ainda moro em Tiradentes. Muito lindo esse texto.