quinta-feira, junho 01, 2006

Self-service quem puder

Olha, não se trata de ser elitista ou, menos ainda, esnobe. Não direi “odeio e não vou” porque já fui várias vezes, irei outras tantas e até aprecio um ou outro (tem o velho Couve-flor, no horto, do qual ando distanciado e, ao menos em priscas eras, era ótimo; tem ainda o Fellini, na General Urquiza...). Mas afirmo convictamente: não me apetecem os restaurantes a peso. Ou melhor: embora nossa vida seja atribulada e o tempo constantemente seja menor que o necessário, é muito ruim almoçar durante a semana naqueles restaurantes com sistema self-service (sistema “serve-serve”, acho ótimo) do centro e arredores.

Ontem fui almoçar sozinho, o que, se para mim não é uma tragédia, também não é o ideal. Conversar com alguém é sempre proveitoso. Mas, sozinho, cheguei ao restaurante, misto de lanchonete (na entrada), de serviço à la carte (no primeiro andar) e, no andar superior, de restaurante a peso. Costumo almoçar lá por baixo; o salão é bem menor e você come direito: senta, cumprimenta o garçon, pede o de costume, aguarda alguns minutos pensando nas coisas do dia, ou do tempo, ou da vida, ou ainda lê algo que traz consigo; chega o pedido, almoça sem atropelo, pede a conta, toma eventualmente um café e se vai. Agora, o perfil do “serve-serve”: sobe a escadinha íngreme – rezando para ninguém descer naquele momento. Tendo chegado ao salão, disputa um prato da pilha; olha para o longo móvel refrigerado e aquecido onde estão dispostas saladas, carnes, molhos; escolhe qual fila vai encarar primeiro: pratos quentes, pratos frios; fica ali, com cara de paisagem, prato vazio na mão, esperando sua vez (o que sempre me lembra filmes de presídio ou quartel); se quiser churrasco, uma fila a mais. A seguir, avança para a fila da balança; “oi”, “a comanda...”, “ah, sim...”.

Então atingimos o clímax do “serve-serve”: encontrar mesa! Como ave de rapina você busca um lugar... “Aqui não, ali está cheio... será que tem vaga lá no fundo?”. Finalmente encontra uma brecha e das duas, uma: ou é uma mesa vazia mas na qual você terá sua privacidade só por poucos minutos ou segundos ou já tem alguém sentado e você é quem vai importunar o outro. Então se senta à mesa, sendo que a próxima está a não mais que 50 centímetros de distância. Mas, a despeito da aglomeração, você não precisa falar baixo com seu possível acompanhante; a barulheira impede até que você se concentre naquelas coisas da vida, do dia e etc, citadas no parágrafo anterior. Vamos comendo preocupados com a fila do caixa que já se compõe por diversos recém-ex-comensais. Desânimo...

No meu caso específico ainda tem o agravante da proximidade da Copa. O restaurante que freqüento instalou as indefectíveis TVs (agora de plasma, 42 polegadas!) e anuncia pelas paredes os jogos da Copa, me convocando a trazer os amigos... Enquanto a Copa não chega, vídeos de música. Num dia Kid Abelha, noutro Ivete Sangalo (ritmo “perfeito” para almoço) e ontem George Benson. “Ah sim”, dirá, “George Benson tem seu valor como acompanhamento gastronômico”. Mas a voz do George tentando ser ouvido, misturando-se ao burburinho dos clientes, ao trânsito frenético das garçonetes, à longa fila da bóia, da balança, do pagamento... aquilo começa a girar, como numa cena de pesadelo de filme... Nessa hora tenho saudade do meu jantarzinho em casa, tranqüilo, em silêncio ou, se muito, uma musiquinha baixa... ô coisa boa.

14 comentários:

Anônimo disse...

Esse, além de receber da empresa ticket de supermercado, é um dos motivos que me fazem trazer marmita!! Quando tenho que ir na rua, coisa rara, geralmente eu vou no Spoleto, que apesar de ser parecido com os serve-serve é massa que eu prefiro e como menos!! hehehehe!!
Não há nada como o sossego de uma refeição!!

Frederico disse...

Algumas colegas de trabalho costumam trazer quentinhas de casa também... Mas nunca consegui fazer isso... Acho que levei muito lanche pra escola, na merendeira (lembra daquela que tinha um orifício em cima, por onde saia a tampa da garrafinha? pois é...). Vai ver, cansei. ;-)

Patrícia Cunegundes disse...

Pior do que "self-service yourself", como diz o outro, é comer em praça de alimentação de shopping. De preferência shopping perto de alguma escola ou universidade. Uma delícia!
Agora, quando estou no Rio, normalmente ando pelo Centro, tenho me dedicado ao Penafiel e ao Villarino.

Anônimo disse...

Vamos papear por aqui? hehehehe!!
Porque tenho que responder a sua resposta...
Eu levei merenda no primário, no ginásio não, acho que é por isso que eu não cansei... que nada, meu problema é preguiça de ir na rua mesmo!!
Só almoço fora quando vou com algum amigo...

Anônimo disse...

Fred esse texto me despertou a curiosidade em outro assunto...você tem filhos?

Anônimo disse...

Aqui pra nós, você sempre foi esnobe e metido, ou nâo/

CrissMyAss disse...

O melhor - (considerando que é a quilo, obviamente) é o Ataulfo. Mas assim como o Fellini, (que nem é tão bom), é meio caro (considerando que é a quilo, again).
Dentre os que tem aspecto "refeitório" mas que tem boa comida, tem o Kilograma, vários espalhados pela cidade.
E boa sorte.
Sei totalmente o que é a merendeira com furo pra garrafinha.
O que tinha na sua? Na minha sempre era suco de uva. Algumas crianças levavam café com leite EEEEECCCAAAA!!!!

Patrícia Cunegundes disse...

Frederico, hoje é seu aniversário?? Se for mesmo, parabéns. Um beijo, Patrícia.

Anônimo disse...

Restaurante a quilo é uma das coisas que classifico como "medonhas", já até escrevi um posto sobre isso. Nada como a tranqüilidade, neste aspecto, sinto falta de Botafogo, onde os restôs são bem mais quietos. Agora, Frederico, ao que interessa: feliz aniversário! tudo de bom procê! muita inspiração! um beijo da coleguinha geminiana aqui, D.

Anônimo disse...

Vc tem todda razão. À quilo é flórida! Dá não!

Luma Rosa disse...

Tenho o péssimo hábito de não almoçar. Sempre tenho na geladeira frutas, iogurtes e coisinhas que possam ser degustadas rapidamente. Ganho tempo com isso. Odeio filas pra comer, álias, pra tudo.
O jantar pra mim é algo sagrado. Sentar e relaxam com a sensação do dever cumprido. Um excelente início de noite!! Boa semana! Beijus

Patrícia Cunegundes disse...

Nossa, como tem geminiano por aqui, hein!
Eu levava lancheira. Outro dia resgatei uma foto em que eu estva com uma coisa medonha pendurada no pescoço, era xadrez, tinha isopor por dentro e - éééééécccaaaaaaa - às vezes eu levava leite com café ou com nescau. mil vezes éca.

Anônimo disse...

Esnobe e metido... mas comia no bandejón lá de Miami Beach!

Frederico disse...

hum... ecos do passado!!! :-P