terça-feira, maio 08, 2007

"Ignorancia"

Não posso deixar de me manifestar. Acabo de ver no Jornal Nacional uma reportagem sobre uma reforma ortográfica na língua portuguesa que, segundo o noticiário, visa a tornar homogênea a língua escrita nos diversos países lusófonos.

Acontece que a reportagem, como muitas que são feitas no tempo exíguo do telejornal, aborda a coisa como se fosse maravilhoso "facilitar" a língua já que "a gente já não usa mesmo", como declara no final da notícia uma adolescente em uma sala de aula, aparentemente ensino médio ou cursinho.
É claro que a língua é organismo vivo e exatamente por isso tem mesmo que se modificar, evoluir. Ocorre que as pessoas não têm a mínima noção de como se fala corretamente, quanto mais como se escreve. A língua escrita é tratada como a maioria das pessoas cuida da coisa pública, sem o menor zelo.

Assim, para todos os populares entrevistados, essa eventual mudança surgiria como extremamente bem-vinda, mesmo porque "a gente já não usa mesmo". O projeto - ainda não referendado por Portugal - aboliria o uso do acento circunflexo em palavras como abençôo, vovô, ônibus ou vôo e remeteria para o recém-inagurado Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, o trema - surgindo "frequência", por exemplo. A dificuldade em usar acentos ou quaisquer sinais gráficos vem muito mais da ignorância em relação à língua do que de uma pretensa praticidade.

O momento culminante da reportagem foi a entrevista, ali no Largo da Carioca, com uma jovem que não tinha a menor aparência de pertencer às classes menos favorecidas da sociedade. A repórter pede à moça para escrever uma palavra que possui trema, talvez fosse "freqüência", não lembro exatamente de qual era. Fato é que a moça escreveu ("freqüência", digamos) sem o tal sinal gráfico. A repórter pergunta: "Mas não está faltando nada?", ao que a moça responde, "ah sim, a crase", e marca os dois pontos sobre o "u". "Crase? é esse mesmo o nome?", surpreende-se a jornalista. "Sim, até hoje pelo menos esse é o nome", insistiu a entrevistada, com ar de que havia ali alguma "pegadinha" da repórter.

Não acho, portanto, que aí esteja uma evolução. O que há é, apenas, um vexame. Para todos nós.

3 comentários:

Hane disse...

Vamos abolir logo todos os acentos.
Melhor, vamos abolir a escrita, assim fica mais fácil.
E para as gerações futuras deixemos somente uma mera lembrança do que um dia foi uma das mais belas línguas do planeta.

Frederico disse...

Anne, sua idéia é daquele tipo que eu poderia dizer "nossa, queria que tivesse sido minha". Pois é isso, é isso !!! Chegamos de uma vez à perfeição: FORA LÍNGUA ESCRITA!!! quem mandou aqueles mezzo-homens, mezzo-símios começarem aquela porcariada rupestre hein !?!?! agora fica essa confusão. Aliás, digo (e digo aproveitando uma das últimas oportunidades, portanto!!) mais: vamos abolir a língua, qualquer tipo de linguagem! nem sinais, nada! fica tudo mais fácil. Tiro pra cá, bomba pra lá pois "a gente já não usa mesmo". ;-)

Leandro disse...

Daqui a mais alguns anos reformarão novamente nossa escrita, dessa vez abolindo o uso do "qu", "gu", "ão", de todos os acentos e pontuações, além de simplificar alguns termos complexos e já caindo em desuso, como "filho", "que", "superstição", "problema", "alcagüete", entre tantos outros...
A propósito: O título da postagem saiu errado. Deveria ter sido "ignorança".